
O advogado Vitorio Sorotiuk presidente a Representação Central Ucraniano-Brasileira (RCUB). À coluna, ele comentou os três anos da invasão russa e a exclusão da Ucrânia da mesa de negociações sobre seu próprio futuro.
Como o senhor avalia a situação na Ucrânia, três anos depois do início da guerra?
A gente está em uma situação delicada. Primeiro a Ucrânia resistiu durante três anos ao segundo maior exército do planeta. Heroicamente. De um lado foi a derrota do Putin por não ter conseguido mudar a Ucrânia inteira, mas, por outro lado, ele está ocupando 20% do território da Ucrânia. Nesse momento, se tinha uma oligarquia tanto na Ucrânia como na Rússia, principalmente, que a gente chama o reino das oligárcas nos Estados Unidos também passou o domínio de oligárquias. De um novo tipo: homens que jogam por debaixo do tapete todos os princípios civilizatórios e legais que a humanidade construiu nos escombros da Segunda Guerra Mundial, como as Nações Unidas e todas as normas internacionais. Está vindo um pragmatismo de interesses puramente econômicos: os EUA se somam à Rússia para pegar as riquezas do país. A situação torna-se mais complicada. É claro que todo mundo deseja a paz. Mas no cemitério também tem paz. E ninguém que a paz do cemitério. E ninguém quer a paz do agressor.
O que significa a eventual vitória da Rússia?
Regride-se a um período anterior a 1945, com as regras anteriores. É isso que a administração Donald Trump está fazendo a nível internacional.
Como o senhor avalia o fato de a Ucrânia não ter sido chamada para negociar seu próprio futuro?
Hoje, Emmanuel Macron está com Trump. Não é uma questão ucraniana, é europeia. Você tem um país que faz fronteira com Lituânia, Letônia e Estônia, a Finlândia foi obrigada a entrar na Otan. Espero que essa semana, Macron conversa com Trump, o representante britânico também irá falar com ele.
Zelensky tinha que estar envolvido nessas conversas?
Obrigatoriamente. A questão que está colocada. A razão fundamental dessa invasão: há um livro de um sociólogo Michel Eltchaninoff, publicado na França, "O que Putin tem na cabeça". Ele analiza todos os discursos de Putin de 2000 a 2014. Em cima da análise de todos os discursos, quem ele cita, quem ele traz, ele extrai o conjunto do pensamento de Putin. O mais citado é Ivan Ilyin. É quem ele cita quando ele faz o ato de anexação de duas províncias mais, de Luhansk e Donetsk. Ivan Ilyn foi expulso da antiga União Soviética em 1922 por Lênin. Tornou-se o ideólogo dos brancos que queriam o restauro do csarismo na Rússia. Ele adere às ideias do nazismo e do fascismo nos anos 1940. Ele morre em 1953 perto de Zurique. Ano 2000, Putin leva os restos mortais dele pra Rússia. Em 2009, ele faz uma sessão soléia de sagração do túmulo do Ivanilin. Em 2014, ele publica todas as ideias de Ivanilin. É um misto da Rússia grande. A Ucrânia tem que estar dentro da Rússia, dentro do mundo russo. E um conceito da democracia limitada. Ou seja, um misto de sentimento de superioridade da Rússia, com o Ocidente está em degradação. Então, é um coquetel determinado. Na Rússia com o Putin houve uma regressão na questão da criminalização do crime contra a mulher, virou um caso de problema doméstico. Eleição fraudada, há 20 anos Putin se reelege. Jornalistas, a maioria está no exílio. É uma ditadura e um novo termo que cunhou-se hoje, de um fascismo russo, chamado ruscismo. O cerne da questão está na ideologia ruscista, nesse conjunto, nesse coquetel de ideias conformadas da Rússia, da Grande Rússia.
O que o senhor acha que vai ocorrer com a Ucrânia nas próximas semanas?
Hoje a Europa reagiu, com uma nova onda de sanções contra a Rússia. Espero que a Europa, porque se a Europa mantém firme, e o próprio Zelensky disse, temos que criar o exército europeu agora, vai levar ao fortalecimento militar da Europa, e a questão da Europa é gastar mais em armamento. Na verdade, estava muito cômodo embaixo do guarda-chuva dos EUA, mas eles são imprevisíveis.