Boa parte da participação brasileira na COP28 é vista como uma prévia, em aspectos políticos, da conferência do clima que vai ocorrer no Pará em 2025, a COP30.
Uma vez encerrado nesta terça-feira (12) o balanço global, principal objetivo desse encontro em Dubai, quando os países prestam conta do quanto reduziram de emissões de gases do efeito estufa, os olhos se voltarão para a chamada COP da Amazônia, mesmo que haja a COP29 no meio, no Azerbaijão. Isso porque, em 2025, as nações terão de traçar novas metas de redução de gases poluentes.
Helder Barbalho (MDB), o governador do Pará, tem circulado por Dubai como uma espécie de diplomata informal, vendendo o que ele promete ser a COP que colocará a floresta no centro dos debates. Ex-ministro da Pesca e Aquicultura e ministro-chefe da Secretaria Nacional dos Portos no governo Dilma Rousseff e ministro da Integração Nacional no governo Michel Temer, Barbalho conversou com a coluna em uma sala do pavilhão do Consórcio Amazônia Legal, integrado por nove Estados que têm a mata em seus territórios. A seguir, os principais trechos da conversa.
Estamos vendo uma estrutura impressionante na COP28, em Dubai. Será possível garantir esse nível de estrutura no Pará em 2025?
São realidades distintas. Cada COP deve ser vista dentro da realidade local e a partir daquilo a que se propõe. Nossa intenção é transformar a conferência de Belém na grande oportunidade de fazermos a COP da floresta, da natureza e das realidades do bioma que protagoniza soluções para a urgência climática. Aqui, estamos assistindo a um evento que, sob o aspecto da estrutura, difere-se de qualquer outra COP, diante da magnitude que Dubai possui, seja como cidade, seja no ambiente expositivo. Quem quer hotel seis estrelas, uma cidade de exposição: Dubai. Quem quer floresta, conhecer a realidade dos povos indígenas, dos quilombolas, dos extrativistas e dos centros urbanos da Amazônia: Belém. Dessa maneira, estaremos trabalhando para deixar um legado ambiental e de infraestrutura. Temos dois anos nessa caminhada para buscarmos soluções aos gargalos existentes, construirmos hospitalidade dentro da nossa realidade. Acreditamos que será muito importante e positivo esse processo.
O que o senhor aprendeu aqui, em Dubai?
Estamos com o time do governo do Estado, das áreas de logística e segurança, atuando na parte interna da organização do evento, conhecendo todo o processo para que possamos, inclusive, visualizar aquilo que será aplicado e o que não será aplicado. Quem está vivendo isso aqui sai com impressões positivas, mas também com observações do que possa eventualmente ser melhorado. Mas não temos ambição de levar Dubai para a Amazônia. Queremos fazer a COP da Amazônia, com as nossas realidades, peculiaridades, desafios e principalmente com a nossa vantagem, que é a floresta.
Os empresários brasileiros pedem mais pragmatismo. O senhor pode garantir que a COP da Amazônia será uma COP pragmática?
Entendo que a urgência climática está obrigando o pragmatismo. Essa COP em Dubai é muito importante porque estamos no momento em que os negociadores são constrangidos a apresentar os seus cumprimentos de meta. A COP em Belém será a do lançamento de novas metas. A eventual constatação aqui de que as entregas foram aquém do que o Acordo de Paris estabeleceu pode gerar uma aceleração das entregas reais. São entregas públicas, mas também privadas, porque estamos falando de territórios: de qual contribuição positiva ou negativa cada signatário do Acordo de Paris fez. Temos expectativa, na COP, em Dubai, em relação aos negociadores. Temos um mosaico de participantes, mas o mais relevante é o que os negociadores estarão trazendo nesse processo estressante, diplomático, de cada país.
O que o senhor consideraria o sucesso da COP no Pará?
Floresta viva valer mais do que floresta morta. Acho que esse é o grande legado, buscando sintetizar em uma frase algo tão transversal, tão complexo. Que nós possamos fazer com que a floresta esteja no centro das discussões da solução, e não no centro dos problemas. Esse é o nosso grande desafio, colocar a floresta na agenda.
O Brasil precisa estabelecer uma meta de transição definitiva de combustível fóssil
Uma das suas políticas no Pará é a implementação de educação ambiental no currículo das escolas. Como tem sido?
É uma mudança cultural necessária. Nosso Estado foi forjado, nas últimas quatro décadas, pelo uso do solo de forma extrativa. Na década de 1960, para ir ao Pará, você precisava desmatar. Para ter acesso a crédito, precisava desmatar. Para ter título de terra, precisava desmatar. Essa era a realidade. Os avós das crianças de hoje foram forjados e muitos migraram para a Amazônia na lógica do "integrar para não entregar", como política pública. O que estamos querendo e construindo é que haja uma mudança comportamental da sociedade, da compreensão de que, desde um pequeno um gesto de jogar lixo em uma rua urbana até o cuidado com uma árvore em uma área rural, deva estar na implementação da formação cultural dessa e das próximas gerações. Desistindo das gerações do passado? Não. Mas uma criança sentada à mesa com o pai ou com o avô é capaz de convencê-los sobre mudança comportamental. Esse é o conceito quando implementamos oficialmente a educação ambiental, fazendo parte do currículo pedagógico das escolas do Pará.
Como o senhor avalia a posição do governo brasileiro na COP28, defendendo menos combustíveis fósseis, mas ingressando na OPEP+?
O Brasil precisa estabelecer uma meta de transição definitiva de combustível fóssil, que possa compatibilizar meio ambiente com segurança energética. Isso é fundamental. E a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia junto a Agência Nacional do Petróleo (ANP) devem construir esse planejamento. Trata-se de compatibilização: temos uma agenda ambiental, uma atividade econômica e uma segurança energética. É fundamental que possamos planejar em quanto tempo a transição energética permitirá que o Brasil possa virar a página do combustível fóssil. E o ativo de hoje, Petrobras e todo estoque petrolífero do Brasil, deve financiar essa transição. Mais do que isso: não apenas financiar a transição, mas a implementação das atividades de valorização da floresta, para compensar a neutralização das emissões.