Quem visita o Vietnã não pode deixar de ir a Cu chi. A 40 quilômetros de Ho Chi Minh, a antiga Saigon, o complexo de mais de 250 quilômetros de túneis ficou conhecido por ser utilizado pela guerrilha Vietcongue como elemento surpresa e mortal contra os Estados Unidos durante a guerra. Hoje, é possível visitar um trecho dos buracos, como turista.
Naquele conflito, era comum, aparecerem, do nada, guerrilheiros matraqueando suas metralhadoras contra americanos. Apareciam e sumiam graças aos túneis. À noite, nos acampamentos, soldados americanos desapareciam de repente. Apareciam, no dia seguinte, mortos com sinais de tortura. Quando os militares descobriram os túneis, começaram a enviar cães pelos subterrâneos. Os animais também apareciam mortos com as cabeças decapitadas. O aspecto psicológico era brutal para a força invasora. Assim é a guerra assimétrica, de um exército formal contra um grupo não regular, de militares contra guerrilheiros ou... terroristas.
Já escrevi neste espaço que a guerra urbana, que Israel começa a aprofundar na Faixa de Gaza, é o pesadelo de qualquer estrategista. Os exemplos históricos são muitos de como esse tipo de conflito, casa a casa, rua a rua, quarteirão a quarteirão, favorece a força defensora. Stalingrado, uma das mais famosas batalhas da Segunda Guerra Mundial, durou de julho de 1942 a fevereiro de 1943. Morreram 2 milhões de pessoas. Ao final, os soviéticos barraram o avanço nazista em parte pela geografia, em parte pelas condições climáticas, o famoso general inverno, em parte porque os escombros produzidos pelos bombardeiros Luftwaffe se tornaram trincheiras.
Mais recentemente, na batalha de Mossul, no Iraque, as armadilhas estavam por todos os cantos: geladeiras-bomba, televisores-bomba, crianças e mulheres com coletes suicidas... Qualquer passo em falso pode significar a morte para um soldado invasor. Corpos de militares dilarecerados se tornam arma psicológica poderosa. O exército iraquiano, com apoio dos EUA, levou nove meses para derrotar o Estado Islâmico em Mossul.
Outro exemplo ainda mais recente, na Guerra da Ucrânia, a Rússia, uma das melhores infantarias do mundo, não conseguiu invadir Kiev e penou para conquistar Mariupol. Na névoa da guerra, não há regras. No salve-se quem puder do conflito urbano, proteger civis vira secundário. Atiradores de elite estão escondidos em sacadas, em escombros, nos subterrâneos.
Os túneis que o Hamas construiu na Faixa de Gaza lembram Cu Chi, no Vietnã. É isso o que espera Israel no território palestino. Infelizmente, vai morrer muita gente: terroristas, soldados e civis. De todos os lados. Em todos os lados.