Diante desta que é uma das maiores tragédias naturais da história do Rio Grande do Sul, a hora é de focar os esforços em resgatar as pessoas que ainda estão em situação de risco em meio à fúria das águas em municípios do Norte, Serra e Vale do Taquari. Também é necessário prestar assistência a quem está desabrigado ou desalojado.
Como gaúchos, vamos chorar juntos pelas vítimas fatais e suas famílias. Também nos uniremos em uma rede de solidariedade para a limpeza das áreas atingidas e a reconstrução de casas e estruturas.
Passado o momento mais dramático do desastre, junto com o enorme e frequente apelo que virá por recursos federais, será necessário que autoridades municipais e estaduais se dediquem a outro nível de ação: o aperfeiçoamento de planejamento e resposta, com medidas concretas e de conhecimento de toda a sociedade gaúcha.
Como se sabe, o Brasil não tem uma cultura de prevenção. Tragédias como a da boate Kiss e os desmoronamentos de morros em Santa Catarina e nos litorais de Rio de Janeiro e São Paulo, a cada verão, revelam que, somada a essa carência, há também negligência. As sucessivas tragédias naturais gaúchas - em junho, 16 mortos com a passagem do ciclone pelo Litoral Norte e Vale do Sinos e, agora, mais de 30 perdas, com novo fenômeno a se abater sobre Norte, Serra e Vale do Taquari - confirmam que os eventos extremos chegaram para ficar.
Quando as águas desse inverno sombrio baixarem, cabe voltar à prancheta. Urge também a nós, como cidadãos, mudarmos nossa cultura, elevando a prevenção e o estado de atenção a um novo patamar.
Como repórter, cobri terremos no Haiti e no Peru e a catástrofe do furacão Katrina, nos Estados Unidos, que submergiu mais de 80% da cidade de New Orleans. Vi situações de prevenção e controle de desastres em nações ricas, em desenvolvimento e nas mais miseráveis.
Vivemos em um Estado com rios, vales, encostas e com grande concentração de pessoas nessas áreas. Evoluímos bastante em relação a alertas. Mas precisamos aprender mais com nações que, há séculos, convivem com os riscos.
Uma cartilha básica:
- Sinalização com placas de rotas de evacuação em caso de elevação das águas dos rios.
- Sirenes ao longo dessas rotas, porque, nessas situações, como ocorreu em Muçum, as redes de telefonia ficam prejudicadas, e a falta de comunicação amplifica a tragédia.
- Zoneamento ambiental, com mapas de áreas de risco. Planos para retirada de moradores dessas áreas.
- Uso de tecnologia, como aplicativos com alertas e informações sobre onde buscar abrigo.
- Comunicação pública ágil.
- Treinamento de pessoal para resgate, eventualmente com corpos civis para auxiliar os profissionais.
- Plano de resposta, com órgãos municipais e estaduais sabendo exatamente o que cada um deve fazer quando o desastre chega. Número de helicópteros, embarcações e efetivo atualizados.
- Conscientização da população.
Algumas dessas medidas não evitam a ocorrência de eventos extremos. Não impediram catástrofes como os tsunamis no Chile e no Japão, tampouco impedem a aproximação de furacões no sul dos Estados Unidos, mas reduzem danos e prejuízos. E, sobretudo, ajudam a salvar vidas.