Poucos duvidam que o atual cenário econômico da Argentina, com inflação anual superior a 100%, é um caminho aberto para o retorno da direita ao poder no país vizinho.
Mas o descalabro da situação entre os hermanos também deixa pouca margem para o atual governo tentar a reeleição - o presidente Alberto Fernández ainda não anunciou se será candidato e, sua vice, Cristinina Kirchner, idolatrada pelos fiéis seguidores do kirchnerismo e odiada por inimigos, já disse também que não irá concorrer.
O anúncio de que o ex-presidente Mauricio Macri desistiu de se candidatar não deixa de ser um baque para a centro-direita. Ele era o nome mais forte, de consenso nessa ala do espectro político, ainda que tenha saído da Casa Rosada com a maior dívida de toda a sua história com o Fundo Monetário Internacional (FMI), cerca de US$ 44,5 bilhões (mais de R$ 235 bilhões).
Macri personifica a oposição, a une. Mas sua desistência tem um lado positivo entre correligionários, abrindo a oportunidade para novos nomes - algo, aliás, difícil de ocorrer no Brasil. A saída de cena de Macri permite que, por exemplo, o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, busque se cacifar a candidato. Em segundo lugar, quem sabe a ex-ministra do Interior Patricia Bullrich.
O vídeo de seis minutos que Macri divulgou em redes sociais, no domingo (28), é um libelo de sensatez para a direita.
- Não serei candidato nas próximas eleições. Estou convicto de que devemos alargar o espaço político para a mudança que iniciamos e que temos de inspirar outros com as nossas ações - afirmou o ex-presidente que governou entre 2015 e 2019 e perdeu as eleições passadas para Fernández.
Ao menos, Macri é claro. Retira seu nome das especulações. E permite que novos nomes possam ocupar o espaço do debate público. Patricia, por exemplo, é a preferida de Macri.
Na esquerda, é mais difícil. Os argentinos, como nós, brasileiros, temos uma tendência à personificação da política: precisamos de caras, nomes e sobrenomes. E menos de ideologias, infelizmente. E, no caso argentino, o peronismo é mestre em populismo. Precisa de gente de carne e osso.
Fernández agravou a crise econômica. Cristina está fora. Uma das novas caras é Daniel Scioli, atual embaixador argentino em Brasília e que perdeu para Macri em 2015. Outro é Sergi Massa, o ministro da Economia.
O primeiro turno está marcado para 22 de outubro. O segundo, se houver, será em 19 de novembro.