Faltando seis semanas para a posse do novo governo, a ausência do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, em razão de sua viagem ao Egito e a Portugal e agora adiada pelo procedimento cirúrgico ao qual foi submetido, produziu um efeito colateral. O brilho do vice Geraldo Alckmin (PSB-SP) e da senadora Simone Tebet (MDB-MS) provocam ciúmes em uma ala do PT.
Em relação ao ex-governador de São Paulo, a desconfiança não é novidade, mas ganhou força de duas semanas para cá com o protagonismo que ele assumiu no comando da transição. Com perfil executivo, Alckmin ficou cuidando da casa, enquanto Lula ganhava o palco internacional.
Mas a preocupação, conforme alguns representantes do PT, é que ele possa ganhar ainda mais projeção no futuro governo - exercendo o papel de articulador político, como outrora José Dirceu o fizera no primeiro mandato de Lula. No caso de Alckmin, porém, sem pasta. Para tentar evitar conflagrações durante sua ausência, antes de embarcar, Lula deixou claro que Alckmin não disputa cargo de ministro.
Não adiantou. A transição se dá em 2022, mas há quem já esteja de olho em 2026. O cálculo é que a projeção no governo pode cacifá-lo como sucessor de Lula na próxima eleição presidencial - o que pode inviabilizar nomes da própria sigla. Petistas também acreditam que, cedo ou tarde, haverá conflitos devido a visões divergentes em setores como agricultura e economia, por exemplo. Há ainda o "fantasma do vice" - para muitos, Michel Temer (MDB) foi o articulador do impeachment de Dilma Rousseff.
Em menor grau, a cautela é semelhante em relação à senadora Simone Tebet, cotada para assumir a gestão do Bolsa Família. Ela coordena o grupo técnico de desenvolvimento social da transição - e seria natural que comandasse um eventual ministério sobre o assunto. O programa social, na visão de alguns líderes, é estratégico demais para ficar com Tebet, que cresceu muito em visibilidade desde seu apoio a Lula no segundo turno.