
Enquanto as iniciativas diplomáticas tentam buscar uma saída política para a crise no Leste Europeu, a Rússia aumenta a concentração de tropas e equipamentos militares ao redor das fronteiras da Ucrânia. Não é exagero dizer que, hoje, o país está cercado por terra e mar.
Ainda que o Kremlin negue uma invasão, a alta concentração de tropas, cujos registros aparecem em várias imagens de satélite, evidencia que a Rússia poderia ocupar o território ucraniano sem maiores dificuldades.
A partir das últimas movimentações militares russas e das delicadas relações geopolíticas na região, a coluna preparou um cenário de como poderia ocorrer a invasão.
O cerco
Neste momento, a Ucrânia está cercada por tropas russas posicionadas em todos os seus quadrantes: em Belarus, ao Norte, na Península da Crimeia, ao Sul, na extensa fronteira com o oeste russo, e, em uma nova frente, na chamada Transdnístria, território pró-russo dentro da Moldávia (ou Moldova), a Leste.
Fronteira com a Rússia
É onde estão concentrados os mais de cem mil militares russos. Esse deslocamento de tropas, no final de 2021, foi o estopim da atual crise, levando o Ocidente a se preocupar com uma possível invasão. Imagens de satélite têm mostrado, desde dezembro, o aumento da concentração de equipamentos militares, por exemplo, no campo de treinamento de Pogonovo. Ranhuras na neve salientam movimentação de blindados e caminhões, o que indica ação recente. É a partir do oeste russo, que as tropas poderiam, por exemplo, invadir a região do Donbass, onde estão as duas "repúblicas" separatistas de Lugansk e Donetsk. Seria uma repetição da Crimeia, em 2014, uma vez que, nessa região, as tropas russas contariam com apoio de russos étnicos e de grupos armados separatistas (milícias). A questão aqui seria saber se Putin pararia a ocupação no Donbass ou estaria disposto a ampliar a invasão para todo o território ucraniano, até Kiev.
Crimeia
A península que foi ocupada pela Rússia em 2014, sob o olhar passivo do Ocidente, constitui uma frente importante para uma eventual invasão pelo Sul (por terra) e pelo mar. Na Crimeia fica a importante base de Sebastopol, casa da Frota do Mar Negro. Forças russas nessa região fizeram, nos últimos dias, exercícios militares. Aqui, as tropas regulares também contam com apoio de grupos separatistas que poderiam fazer parte de batalhões irregulares em uma eventual invasão.

Belarus
Ex-república soviética, o país é considerado a última ditadura da Europa. É governada por Aleksandr Lukashenko. Após as eleições presidenciais de 2020, houve uma onda de protestos contra o regime autoritário. O ditador quase caiu, mas foi socorrido por Putin. Desde então, os dois governos se aproximaram muito. Belarus concentra o maior número de militares russos, tanques, blindados, caças e lançadores de foguetes desde que a URSS dominava a região. O Ministério da Defesa russo informou que algumas de suas forças mais avançadas e bem equipadas foram enviadas para nove bases e aeródromos, entre os quais os sistemas antiaéreos S-400 e aviões bombardeiros.
Essa mobilização abriu uma importante frente ao norte da Ucrânia, onde a fronteira de 1.070 quilômetros é menos guarnecida. O país concentra suas tropas no Leste, esperando uma eventual invasão pela fronteira russa.
Transdnístria
É a mais nova frente aberta pela Rússia, cercando completamente a Ucrânia. Trata-se de um território separatista que fica dentro da Moldávia (ou Moldova). É uma área de 4,1 mil quilômetros quadrados na fronteira com a Ucrânia. Essa região conquistou alguma autonomia graças às tropas russas presentes no território. Assim como a Crimeia e o Donbass, a Transdnístria conta com uma população composta, em sua maioria, por russos étnicos. Estão baseados lá pelo menos 1,5 mil militares russos, helicópteros e blindados. Nos últimos dias, eles iniciaram exercícios militares simulando invasão de território.