Este deve ser um dia emblemático na batalha por maior responsabilidade das redes sociais. Em uma ação inédita, mais de 40 Estados, entre os 50 que forma os Estados Unidos, devem ingressar nesta quarta-feira (9) com um processo na Justiça americana contra o Facebook.
Liderados pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, os representantes dos Estados, que contam com apoio do governo federal, alegam que a empresa de tecnologia atuou de forma ilegal e anticompetitiva ao comprar companhias concorrentes, como o Instagram, em 2012, e o WhatsApp, em 2014, como forma de aniquilar competidores. A tática permitiu à rede social de Mark Zuckerberg concentrar excessivo poder econômico.
Além do grande número de Estados americanos que se une contra o Facebook, há outro aspecto inédito na acusação: a ação reúne procuradores-gerais democratas e republicanos, partidos que acabam de sair de uma das eleições mais disputadas em décadas. Ou seja, isso mostra que a empresa de Zuckerberg é o inimigo comum de ambas as legendas que dominam o cenário político americano.
Segundo o jornal The Washington Post, que conversou com pessoas próximas ao processo, os procuradores irão pedir à Justiça que considere uma ampla gama de possíveis reparações, entre elas forçar o Facebook a vender alguns de seus negócios e que a empresa informe, a partir de decisão judicial, futuras transações.
Os Estados atuam em coordenação com a Federal Trade Comission (FTC), o órgão regulador da concorrência nos Estados Unidos. A investigação vem na sequência de um acordo que levou o Facebook a pagar uma multa de US$ 5 bilhões no caso da Cambridge Analytica, consultoria política que se aproveitou dos dados de milhões de americanos vazados pela empresa do Vale do Silício para fazer lobby nas eleições de 2016.
Desde o acordo, o Facebook e Zuckerberg têm enfatizado que, ao comprar Instagram e WhatsApp, eles os ajudaram a crescer e a se tornar serviços viáveis em um mercado maior, onde empresas recém-chegadas, como o TikTok, ainda são capazes de prosperar.
Ainda segundo o Post, os investigadores afirmam que o Facebook havia prometido preservar a independência do WhatsApp e garantir a privacidade dos dados dos usuários. Porém, depois da aquisição, a empresa integrou os dados pessoais com outros serviços da plataforma de rede social.
Facebook e Google enfrentam o crescente escrutínio de autoridades em várias partes do mundo e maior desconfiança do público. O Facebook, por exemplo, demorou a reprimir discursos de ódio em seu ambiente virtual em episódios como a morte de George Floyd ou em campanhas como BlackLivesMatter e faz muito pouco para evitar a propagação de notícias falsas (fake news). No ano passado, a empresa sofreu um boicote de dezenas de marcas famosas, que deixaram de colocar anúncios na plataforma como forma de pressionar a rede social a combater de maneira mais ativa posts racistas ou que pregavam discursos de ódio.