A missão de resgatar possíveis sobreviventes ou, no mínimo, trazer os corpos de desaparecidos à tona para que sejam enterrados com dignidade deve ser técnica, e não ideologizada.
A história recente tem mostrado que, quando o país vítima de uma catástrofe se abre ao apoio internacional, as chances de sucesso são maiores. Foi o que aconteceu durante o incrível resgate dos 33 mineiros no Chile, em 2010, e, mais recentemente, no drama dos 12 meninos tailandeses e seu treinador presos em uma caverna, em 2018.
Ao contrário, nas ocasiões em que um país se fechou ao mundo, o resultado foi de tragédia ampliada e vergonha internacional — basta lembrar o caso do submarino Kursk, em 2000. O governo de Vladimir Putin rejeitou ajuda de mergulhadores holandeses para trazer à tona o sarcófago de aço temendo que informações de inteligência vazassem. Tempos depois, o mundo ficou sabendo que ainda havia vida no interior do aparelho, mesmo depois da explosão. Se a ajuda chegasse, quem sabe alguém teria sobrevivido.
Está claro que o apoio israelense no caso de Brumadinho representa um sinal de agradecimento do governo de Benjamin Netanyahu aos agrados de Jair Bolsonaro — a prometida mudança da sede da embaixada brasileira para Jerusalém, os calorosos diálogos durante a posse e a promessa de "alinhamento automático".
Mas, independentemente da intenção, toda ajuda é bem-vinda. À coluna, o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, explicou que a equipe de mais de 130 especialistas têm equipamentos para detectar sinais de celulares.
— Usamos em casos de atentados. Mas também, por meio de celular, conseguimos a localização de bandidos e terroristas. Se quero captar o celular de você pode saber a localização — explicou.
A polêmica desta segunda-feira ficou por conta da declaração do tenente-coronel Eduardo Ângelo, comandante das operações de resgate, sobre a eficiência dos instrumentos trazidos do Oriente Médio.
— O imagiador que eles têm pega corpos quentes, e todos os corpos (na região) são frios. Então esse já é um equipamento ineficiente — afirmou.
Questionado sobre que outros equipamentos israelenses podem ser usados nas buscas, o comandante afirmou:
— Dos equipamentos que eles trouxeram, nenhum se aplica a esse tipo de desastre.
A eficiência pode não ser a mais indicada. Os israelenses trabalham com radares para identificar sinais de aparelhos celulares. Com o passar do tempo, porém, é mais provável que os celulares já estejam apagados. A tecnologia israelense consegue localizar corpos em até três metros de profundidade. A profundidade da lama chega até 15 metros.
Mas há pelo menos um ganho. Um dos equipamentos avalia a situação de outras barragens do complexo da Vale no município, o que, por si só, já é de grande valia para evitar a terceira tragédia do tipo. Não estamos, no Brasil, em momento de nos darmos ao luxo de dispensar os israelenses.
A propósito, um grupo formado por 82 médicos cubanos, que ainda estão no Brasil após o fim da parceria do país com o programa Mais Médicos, ofereceu ao governo federal ajuda no resgate e atendimento às vítimas. A maioria dos profissionais é clínico geral, mas há outros com diferentes especialidades, como cardiologistas, oftalmologistas e ginecologistas. Todos aguardam algum chamado do governo. Virá?