A cena de Vladimir Putin e seu sorriso enigmático, ao lado dos carismáticos presidentes Kolinda Grabar-Kitarovic, da Croácia, e Emmanuel Macron, da França, foi a coroação do czar como o grande vencedor das quatro semanas de Copa do Mundo.
Nem a França de Mbappé nem a Croácia de Luka Modric. Foi o russo quem levou para casa a taça de todo-poderoso do Mundial.
A Copa na Rússia foi um sucesso do ponto de vista da propaganda nacional e internacional, exatamente como planejado pelo Kremlin para aliviar a imagem do país aos olhos do Ocidente: sem atentados terroristas, como havia o risco em razão os grupos separatistas chechenos e a ameaça do Estado Islâmico, sem arranhões à imagem da potência que almeja retomar o prefixo "super" e com um impacto controlado da oposição – restrita a pequenos atos, como a invasão do gramado na final, protagonizada pelo grupo Pussy Riot, que teve uma curta tentativa de exibir ao mundo como o governo trata os movimentos LGBT (rapidamente imobilizado e pouco mostrado pela transmissão oficial da Fifa).
Putin não está muito acostumado a usar o poder leve (o soft power das relações internacionais), onde a influência manda mais do que a força. Mas, desta vez, como se esperava, não precisou dar um tiro, mobilizar hackers ou tropas. Investiu muito dinheiro na Copa, silenciou a oposição e posou de estadista na cerimônia de premiação com a chuva de Moscou escorrendo pelo rosto no estádio Luzhniki. Isso se chama diplomacia do futebol, com a qual a Rússia ganhou de 10 a zero.