Que fique claro: no terreno, o grupo terrorista Estado Islâmico, autor do atentado em Barcelona na semana passada, está perdendo a guerra. Foi neutralizado no Iraque, onde existem poucos remanescentes com capacidade real de ação, depois das quedas sucessivas das cidades de Ramadi, Fallujah e Mossul, arrancadas de suas mãos. Quem sobreviveu foi enxotado para a Síria, hoje o principal palco extremista mundial, no qual uma espécie de nó de interesses de diferentes potências, um governo ditatorial e reduto de punhado de grupelhos (o EI é só mais um) dificultam ação efetiva contra os fanáticos.
Mas do ponto de vista estratégico, a guerra é outra. E essa o Ocidente pode estar perdendo. O vídeo em que o jovem espanhol Abu Lais Al Qurtubi, que está sendo chamado de El Cordobés, conclama à luta contra a Espanha nos recorda que o front é virtual: “Com permissão de Alá, Al Andalus voltará a ser o que era, terra do Califado”, diz o jovem de 22 anos, o primeiro a se comunicar em espanhol em uma mensagem oficial do EI.
Na mente doentia dos extremistas, a Península Ibérica da Europa ainda é aquela dominada por um Califado no século 8. É a mesma associação que Abu Bakr al-Baghdadi, o falso califa do EI, fazia ao conclamar a união de Síria e Iraque com capital em Mossul quando pregou na mesquita Al-Nuri.
O fato de o Estado Islâmico agora falar espanhol amplia o alcance de sua propaganda. Já havia vídeos em francês, alemão e inglês. Mas agora o grupo ultrapassa uma barreira linguistica que o leva a 450 milhões de ouvintes em potencial (é o segundo idioma mais falado do mundo). Ao contrário das primeiras convocações do EI, hoje, os terroristas já não convocam a viajar à Síria: "Se você não pode fazer a hégira (viagem) ao Estado Islâmico, a jihad não tem fronteiras, faça a jihad onde estiver, afirma El Cordobés no vídeo divulgado na quarta-feira.
Para analistas, o idioma próximo, a imagem característica de um europeu falando contra o continente e o discurso agressivo têm potencial de provocar efeito entre seguidores do EI na Espanha a sair por aí com facas, guiando carros contra pedestres ou preparando explosões com artefatos caseiros como a chamada Mãe de Satã, o triperóxido de triacetona (TATP), que seria utilizado em Barcelona.
A guerra da propaganda ainda precisa ser vencida.