
O Partido Conservador, os tories como são chamados, tem maioria no parlamento; Theresa May é a primeira-ministra conservadora em início de mandato mais popular desde os anos 1950; A maioria dos britânicos a apoia e deseja a saída do país da União Europeia (UE), processo que já foi oficializado em Bruxelas, sede do bloco econômico.
Então, por que, neste momento, quando o Brexit parece ter atingido altitude de cruzeiro, May decidiu convocar novas eleições?
Para nós, brasileiros, que vivemos em um sistema de governo presidencialista, parece algo extraordinário. No parlamentarismo, essa é uma situação habitual, normalmente sem rupturas ou traumas - e também sem grandes gastos da máquina eleitoral.
Pelo calendário britânico, as eleições para renovação do parlamento acontecem a cada cinco anos. A última foi em 7 de maio, quando os conservadores conquistaram a maioria das cadeiras do parlamento, prerrogativa para indicar o cargo de chefe de governo – à época David Cameron foi mantido no poder, tendo renunciado após o referendo do ano passado no qual a maioria dos eleitores decidiu pelo Brexit.
A próxima eleição seria só em 2020. Pela lei eleitoral britânica, há duas hipóteses que permitem a antecipação das votações. A primeira diante de grandes desafios, quando consensos são necessários. Nesse caso, a proposta deve ser aprovada por até dois terços da Câmara dos Comuns, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil. A segunda hipótese ocorre quando um voto de desconfiança é aprovado e um novo governo não seja confirmado em 14 dias.
May acredita que, para conduzir a nau britânica de Sua Majestade pelos mares turbulentos do Brexit, precisa de mais poder, maior consenso ainda do que já dispõe. Por isso, propôs à Câmara a moção que antecipa a eleição para 8 de junho – no caso, a primeira hipótese.
- É a única maneira de garantir certeza e segurança nos próximos anos. O país está unido, mas Westminster não está - ela disse, referindo-se ao prédio histórico onde fica o parlamento britânico.
A antecipação da eleição, aprovada nesta quarta-feira, vai acontecer, mas os trabalhistas (os whigs), que apoiaram a medida, não devem voltar ao poder. Segundo pesquisas, em abril, 42% dos britânicos disseram que, no caso de novo pleito, votariam nos conservadores. Os trabalhistas tinham 21%.
Nada muda para o Brexit. Os únicos que poderiam tentar virar o jogo – ainda que haja dúvidas legais se seria possível recuar agora, afinal a UE está enfrentando a saída de um membro pela primeira vez na história – seriam os liberais democratas. Mas é improvável sua vitória.
O que acontece agora? Com a moção aprovada, todo o parlamento deve ser dissolvido - algo também habitual no caso do parlamentarismo. E a eleição do dia 8 de junho passa a ser vista como uma espécie de novo referendo para os conservadores. May deve ganhar, mas não só isso. Os conservadores também poderão ter ampliado o número de cadeiras no parlamento, o que daria mais força para o partido da primeira-ministra. É uma jogada de mestre. Uma espécie de novo respaldo das urnas que May deseja. E, tudo indica, vai conseguir.