
Essa coisa de meio ambiente, preservação das matas, defesa da natureza, isso tudo foi bandeira da direita um tempo atrás. Porque o Brasil era um país essencialmente rural, de florestas exuberantes, rios caudalosos, fauna e flora riquíssimas, portanto atentar contra esse patrimônio era ameaçar a própria identidade nacional.
Todo o patriotismo de antigamente se baseava nisso, em uma nação tão orgulhosa da sua vocação natural que exaltaria essa beleza até no hino —afinal, você sabe, nossos bosques têm mais vida e nossos campos têm mais flores. José Bonifácio, que praticamente fundou o pensamento conservador brasileiro, já se horrorizava com o desmatamento em 1821: "Que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?".
E o poeta cujos versos seriam eternizados no hino, Gonçalves Dias, lançou em 1846 aquela que se tornaria uma das frases mais repetidas da nossa literatura: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá". Quer dizer: amar o Brasil era amar um pássaro gorjeando. Não por acaso, foram governos de forte apelo nacionalista, no Estado Novo (1937-1945) e na ditadura militar (1964-1985), que criaram grande parte da legislação ambiental e das áreas protegidas.
Aliás, foi durante a ditadura, na gestão do prefeito Guilherme Socias Villela, que Porto Alegre recebeu o impressionante plantio de 1,15 milhão de árvores. Villela pegou um aterro descampado à beira do Guaíba, mandou plantar nele 12 mil mudas, e assim surgiu o Parque Marinha do Brasil, por exemplo. E a esquerda brasileira, onde estava? Certamente ocupada com outras prioridades, como lutar contra a tortura e a censura.
Mas mesmo o comunismo soviético preocupava-se mais em construir fábricas, produzir aço e expandir sua base industrial. O chamado pensamento progressista sempre girou em torno da superação do atraso — e a natureza, quando não era uma aliada nesse avanço, podia ser vista como obstáculo. O ambientalismo, então, soava como capricho pequeno-burguês. Só que os tempos mudaram.
A esquerda, que antes via na industrialização o caminho para a justiça social, passou a tratar a preservação ambiental como resposta ao capitalismo predatório. E a direita trocou o patriotismo ecológico por um pragmatismo econômico irresponsável. Talvez a grande lição seja que essa pauta só trocou de lado porque nunca deveria ter tido um. A natureza não tem partido. E nenhuma ideologia sobrevive sem ar, sem água e sem chão.