Não posso dar certeza absoluta, não tenho um levantamento técnico que confirme minha percepção, mas, na história recente de Porto Alegre, não lembro de uma única obra pública que tenha sido entregue no prazo. Já nos acostumamos, ninguém se revolta com isso – o que é uma pena, porque, sem pressão da sociedade, é sempre mais difícil melhorar qualquer coisa.
O atraso mais recente foi anunciado em abril. As obras de drenagem do Arroio Areia, que interrompiam o trânsito na Avenida Nilo Peçanha desde julho de 2021, precisarão ser retomadas nas próximas semanas – ou seja, será preciso quebrar o asfalto de novo para recomeçar as escavações. Quer dizer: se você passa pela Nilo e pensa "ufa, enfim terminou", melhor ir se preparando.
Que diabos deu errado ali? Bem. A empreiteira que toca a obra, contratada pela prefeitura, disse ter sido surpreendida por uma tubulação que já estava no local por onde um novo cano deveria passar. Foi necessário, então, fazer um desvio para instalar esse novo cano – que acabou ficando inclinado demais. Isso é um problema porque, quando o cano fica muito inclinado, a velocidade da água que corre dentro dele aumenta. E a rede acaba sobrecarregada.
Imprevistos acontecem, claro, mas temos aqui um despreparo que é crônico, e não acidental: a prefeitura não faz a menor ideia do que existe embaixo da terra. Como é que a empreiteira dá de cara com uma tubulação da qual ninguém sabia da existência?
Alguém dirá que a tubulação pertencia a um empreendimento privado, e não ao município, o que é verdade. Mas cabe à prefeitura evitar que a cidade – seja na superfície ou no subsolo – se transforme na casa da mãe joana. Se não há controle sobre os canos que passam por baixo da terra, quais são as chances de uma obra subterrânea, em uma região movimentada da Capital, transcorrer sem contratempos e acabar no prazo previsto? Poucas, talvez nenhuma.
Perceba que, neste caso, não se trata de um problema de projeto. Pelo contrário, o Dmae tem tradição de técnicos competentes, capazes de planejar obras complexas. Em uma cidade onde projetos malfeitos são um verdadeiro câncer – vide as obras da Copa, que tragédia –, temos aí um motivo para sorrir.
Mas, até quando o projeto dá certo, dá problema. Porque alguma esculhambação sempre aparece: ou é orçamento (Gasômetro), ou é burocracia (Avenida Tronco), ou é troca de gestão (Mercado Público), ou é planejamento (viaduto da Plínio). O colunista Jocimar Farina inclusive listou as 10 principais razões de atraso em obras públicas.
No caso da drenagem do Arroio Areia, na Nilo Peçanha, o problema era um cano que ninguém tinha visto. Mas, como se sabe, isso é normal: ninguém nunca espera que o prazo vá ser cumprido.