Alvo de uma inspeção técnica na semana passada, o Laçador chama atenção não só pela imponência, mas pela perfeição de suas proporções. Para quem tem uma obra dessas como símbolo, como ignorar as esculturas de Elis Regina, Leonel Brizola e Fernandão?
– Plasticamente falando, essa estátua é bastante infeliz – avalia José Francisco Alves, professor de escultura no Atelier Livre da prefeitura, ao falar da imagem do ídolo colorado, que tem perna curta e braço comprido. – Ela é muito vista, todos vão ali, tiram fotos. Fica a impressão de que o nível da nossa arte é aquele.
Inaugurada em 2014 no pátio do Beira-Rio, a estátua de 1m90cm – altura real de Fernandão – foi esculpida pelos artistas Itamor Rodrigues e Nina Eick.
Sobre a reprodução de Elis Regina no Gasômetro, o professor José Francisco – que é autor do livro A Escultura Pública de Porto Alegre: História, Contexto e Significado – diz não conhecer ninguém que tenha gostado da expressão daquele rosto. Autoria da obra, doada à prefeitura pela Companhia Zaffari, em 2009, é do artista plástico José Pereira Passos
– Sei de escultores que poderiam ter feito algo melhor. Quando a intenção é retratar um símbolo, uma pessoa muito querida, é sempre recomendado fazer um concurso para selecionar o artista – diz o professor.
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Já a estátua de Leonel Brizola, bem, não é nenhum Laçador, mas não chega a incomodar. Alguns apreciam a semelhança da imagem com o líder trabalhista, outros estranham sua figura em movimento – o dedo em riste e os braços se agitando, gestual clássico de Brizola, são o diferencial da escultura de Otto Dumovich, inaugurada em 2014.
– A confecção de estátuas, retratos e bustos requer talentos específicos. Antigamente, quem trabalhava com isso eram pessoas com mais habilidades, artistas mais importantes. Não existe mais esse cuidado – analisa José Francisco Alves.
O Laçador, aliás, foi inaugurado em 1958 e esculpido por Antônio Caringi, maior estatuário da história da arte gaúcha.