Para compreender a magnitude da destruição da infraestrutura do Estado pela enchente de maio do ano passado, basta lembrar as previsões de que a reconstrução da malha rodoviária do Rio Grande do Sul não será finalizada antes de 2026. Além das grandes vias federais e estaduais, a fúria das águas causou danos em incontáveis pontos em estradas vicinais no interior dos municípios, isolando e prejudicando a economia de pequenas cidades e localidades rurais e dificultando o acesso da população a serviços básicos, como saúde e educação.
Ponte no interior de Encantado simbolizou a entrega de 10 travessias construídas pela iniciativa privada
Os estragos espalhados reforçam a certeza de que apenas a soma de esforços entre as comunidades, a iniciativa privada e o poder público será capaz de recuperar todas as estradas e as pontes destroçadas ou danificadas pela cheia. Foi bastante representativa, neste sentido, a inauguração na segunda-feira de uma ponte no interior de Encantado, no Vale do Taquari, que serviu para simbolizar a entrega de 10 travessias planejadas e construídas pela iniciativa privada.
As obras foram planejadas e viabilizadas pelo Projeto Reconstrói, iniciativa da Federasul e dos institutos Ling e Floresta. Também contribuíram empresas gaúchas ou com atuação no Estado, como RandonCorp, Gerdau, Metasa, Grupo Simon e Usiminas. Dez municípios foram beneficiados _ Anta Gorda, Arroio do Meio, Coqueiro Baixo, Doutor Ricardo, Encantado, Ilópolis, Pouso Novo, Putinga, Relvado e Travesseiro. Assim como essas, várias outras pontes, desde o evento extremo de setembro de 2023, foram recuperadas graças ao empenho das comunidades locais e de empresários.
A enchente de maio de 2024 em regiões como o Vale do Taquari, em sequência à enxurrada de 2023, exigiu enorme esforço de municípios pequenos, sem recursos, estrutura e corpo técnico suficientes para responder rapidamente a todos os desafios criados pelas tragédias climáticas. Não fossem o espírito abnegado de voluntários, a dedicação das próprias comunidades e o auxílio financeiro, material e de conhecimento da iniciativa privada, seriam localidades que talvez tivessem que esperar bem mais pelo restabelecimento de rotas interrompidas pelas enchentes.
À falta de meios muitas vezes se soma a burocracia a que são submetidos os gestores públicos para dar a celeridade esperada às obras. Era o momento, portanto, para outros atores se prontificarem a agir. Vale lembrar que as pontes, cada uma orçada em cerca de R$ 780 mil, foram edificadas em alturas superiores às estruturas originais, para que possam resistir a futuras enchentes de grandes proporções. Além de reconstruir, afinal, é dever reconstruir melhor.
Os desafios para a recomposição da infraestrutura do Estado e a normalização da logística permanecem. O desassoreamento das hidrovias está em curso e o aeroporto Salgado Filho ainda não tem o número de voos de antes da enchente. Mas são temas encaminhados. O que ainda gera grande preocupação é a falta de perspectiva de restabelecimento da ligação ferroviária do Rio Grande do Sul com o resto do país. A mobilização não deve esmorecer.