A leitura das entrelinhas do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) indica que o atual ciclo de alta do juro está mais perto do fim. Na quarta-feira, o colegiado confirmou, de acordo com o script anteriormente anunciado, a elevação da Selic em um ponto percentual, levando o aperto monetário ao patamar obsceno de 14,25% ao ano, nível em que permaneceu de setembro 2015 a outubro 2016, quando a inflação chegou a dois dígitos, o dobro do acumulado em 12 meses até fevereiro. A surpresa foi a indicação para a próxima reunião, em maio, de “um ajuste de menor magnitude” caso nenhuma surpresa apareça. Se vier um acréscimo de 0,75 ponto, o juro atinge 15% ao ano, a aposta majoritária do mercado para o encerramento do ano.
É frustrante que o Banco Central se veja obrigado a conduzir o juro a um degrau tão alto
É frustrante que o BC se veja obrigado a conduzir o juro a um degrau tão alto. Alcançar 15% significa voltar a um custo de capital que não era visto há quase duas décadas. A última vez que a Selic chegou a uma escala mais alta foi em 2006, no governo Lula 1. Trata-se de um nível que, muito além de desestimular o consumo, o que não deixa de ser o objetivo, para frear a inflação, traz efeitos nefastos como a inibição do investimento produtivo, a piora das condições financeiras das famílias e das empresas endividadas e a elevação da própria dívida pública. É o círculo vicioso do qual os brasileiros não conseguem se livrar.
Espera-se que novos sobressaltos internos e externos não surjam e o torniquete monetário pare de apertar em breve. Mas o desejável, o início de um afrouxamento, segue distante. Colabora, neste momento, a descompressão do dólar, que chegou a tocar nos R$ 6,30 em dezembro, mas ontem já era negociado a R$ 5,66. Outro fator positivo é a boa safra que o país está colhendo, que tende a segurar o preço da comida, a vilã inflacionária do momento.
Mas também há fatores que preocupam. Ao concluir que “persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”, o Copom quer dizer, trocando em miúdos, que as informações disponíveis indicam maior chance de a pressão nos preços persistir. Além da economia ainda aquecida e do mercado de trabalho forte, há as incertezas externas puxadas pela guerra tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump. No âmbito doméstico, a preocupação reside na política fiscal frouxa do governo, o que contribui para as expectativas de inflação permanecerem elevadas.
Entre os fatores que podem levar a inflação e as projeções dos preços para cima ou para baixo, o que está nas mãos do Planalto é o controle das contas públicas. Devem ser renovados, assim, os alertas e os apelos para que as políticas fiscal e monetária puxem para o mesmo lado. A preocupação reside na propensão do governo a dar novos impulsos ao crescimento via consumo, ainda mais em um momento de popularidade baixa e com a eleição de 2026 se aproximando. Mas deixar o trabalho de segurar a inflação apenas para o BC significa, no mínimo, manter o juro em um patamar estratosférico e prejudicial ao país por maior tempo.