Contornar a crise da saúde na Capital e na Região Metropolitana e reduzir a superlotação de prontos-atendimentos (PAs) e hospitais que atendem pelo SUS requer disposição ao diálogo. A solução passa pela colaboração mútua entre prefeituras, Estado e governo federal, entes que dividem as atribuições de financiamento e gestão do sistema público. Acima de eventuais diferenças políticas ou de visões sobre a divisão de tarefas e responsabilidades deve estar o compromisso em garantir atendimento à população.
A saída ideal não passa apenas por transferir mais verbas para Porto Alegre, mas também por melhorar a atenção no Interior
É promissor, nessa linha, que tenha produzido resultados o encontro no final da tarde de terça-feira entre a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, e o titular da pasta de Porto Alegre, Fernando Ritter. O Estado se dispõe a colaborar com a Capital com R$ 8 milhões adicionais para a conclusão de dois prontos-atendimentos da cidade que, dessa forma, poderiam se habilitar junto ao Ministério da Saúde para se tornarem unidades de pronto atendimento (UPAs), o que os habilitaria a receber repasses federais mensais, qualificando o amparo aos cidadãos. Outros possíveis anúncios de ajuda do Piratini podem ser conhecidos na segunda-feira. Supera-se, assim, a fase de estranhamento que dificultava a busca por saídas.
Na semana passada, quando as dificuldades de Porto Alegre vieram à tona, noticiou-se que a ocupação de leitos do SUS nos hospitais da cidade estava em 90%. Nos prontos-atendimentos, com um quadro mais dramático, a procura por leitos clínicos de enfermaria era o dobro da capacidade. A queixa da Capital é de que boa parte dos pacientes é oriunda do Interior. Diante do estrangulamento, a prefeitura ameaçou cortar serviços. Em Canoas, o prefeito Airton Souza, com problema semelhante e fazendo coro à reivindicação de mais repasses do Estado, disse cogitar limitar o atendimento no Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC) aos moradores da cidade. Não se deve sequer chegar a cogitar atitudes drásticas como essas.
Convém lembrar que Porto Alegre, e também Canoas, é referência em saúde para dezenas de municípios. Se a procura excede a capacidade de atendimento e faltam recursos, a saída é expor a situação, negociar e pleitear mais verbas. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, iniciou reuniões com colegas de municípios da Região Metropolitana que enfrentam dificuldades para suprir a demanda por atendimento em suas cidades. A intenção é se reunir com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Também é positivo que, em regime de cooperação, técnicos da área da Capital e do Estado estejam calculando o déficit existente para postular, com argumentos consistentes, maior injeção de recursos de Brasília.
A saída ideal, porém, não passa apenas por transferir mais verbas para Porto Alegre, reforçando o incentivo à concentração de serviços. Por ser uma crise sistêmica, deve-se também melhorar a atenção no Interior, notadamente em casos de menor complexidade, para que pessoas em busca de cuidados médicos não tenham a necessidade de se deslocar ou então não imaginem que só em Porto Alegre terão o atendimento buscado.