O mês passado foi o janeiro mais quente já observado, informou nesta quinta-feira o observatório europeu Copérnicus. O recorde foi estabelecido apesar do fenômeno La Niña, que deveria ajudar a resfriar o planeta. O início de 2025 escaldante também é sentido na pele pelos gaúchos. A onda de calor que atua sobre o Estado e deve ter o pico no início da próxima semana já fez o Rio Grande do Sul ter a mais alta temperatura em 115 anos, com os 43,8ºC registrados em Quaraí na terça-feira. Ao mesmo tempo, climatologistas tornam a alertar que as mudanças climáticas farão o Estado ter maior frequência de períodos tórridos.
A maior reincidência de ondas de calor exige providências para minimizar as consequências dos dias abrasadores
As advertências reiteradas sobre a maior reincidência de ondas de calor e outros fenômenos associados, como estiagens, exigem providências para minimizar as consequências dos dias abrasadores para a população. É preciso se adaptar a essa nova realidade, nas circunstâncias do cotidiano e nos serviços públicos. E rápido, uma vez que os efeitos nocivos já mostram as suas garras.
A saúde é uma das áreas mais desafiadas. Na semana passada, o Jornal Nacional apresentou os resultados de uma pesquisa da prefeitura do Rio que relaciona o calor extremo à elevação de mortes em hospitais, em especial de idosos e de indivíduos com doenças crônicas. Os cuidados com o público mais suscetível, que incluem se hidratar e evitar exposição ao sol, devem ser redobrados.
Doenças como a dengue, transmitida pelo Aedes aegypti, preocupam mais. A proliferação do mosquito é facilitada pelo aquecimento global. O Estado teve no ano passado recorde de mortes pela enfermidade, que há 10 anos tinha números insignificantes. GZH mostrou, na terça-feira, que a quantidade de casos na Capital neste início de 2025 superava em 13% os diagnósticos em igual período de 2024, sinal de que o problema se agrava. Deve-se voltar a reforçar a importância de a população colaborar na luta para eliminar criadouros do mosquito. Ainda não há vacinas disponíveis para uma campanha ampla de imunização, o que talvez ocorra em 2026. Ainda assim, restará o desafio de elevar a adesão à vacinação.
As altas temperaturas também têm sido torturantes para os usuários de transporte público, como os ônibus urbanos e o trensurb. Passageiros de ambos os serviços são submetidos a deslocamentos em veículos lotados sem ar-condicionado ou com aparelhos desligados ou inoperantes. Na Capital, mais de 90% da frota dispõe de refrigeração, mas as queixas de calorão ao longo das viagens se avolumam, mesmo que a EPTC tenha se comprometido a fiscalizar, já que norma do município manda acionar os equipamentos a partir de uma temperatura de 24ºC. Não é aceitável esse desrespeito a quem depende do transporte público, ainda mais em dias com marcas bem acima de 30ºC.
Ainda acerca de serviços públicos, tarda uma solução definitiva para o gosto e o cheiro ruins da água distribuída pelo Dmae em Porto Alegre, problema que se repete ano após ano no verão, período mais quente e de menor nível do Guaíba. Sabe-se que, com o planeta febril, estiagens e períodos de altas temperaturas serão mais recorrentes, é dever encontrar uma forma efetiva de entregar à população uma água não apenas incolor, mas insípida e inodora, como se aprende na escola que deve ser.