As declarações feitas a Zero Hora pelo ex-delegado federal argentino Roberto Oscar González, de que matou oposicionistas na ditadura mas não se considera homicida e que "gostaria de ter abatido Rodolfo Walsh", provocaram revolta em organizações de direitos humanos, que reagirão a isso na semana que vem.
O brasileiro Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), o argentino Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels) e o Ministério Público Federal argentino devem voltar à carga, exigindo a extradição imediata do repressor.
- Estamos frente a uma grande canalhice. Além de tudo, é um sujeito acintoso em suas declarações deploráveis. É um absurdo estarmos tolerando algo assim no nosso país - comentou o presidente do MJDH, Jair Krischke.
Os advogados de González querem evitar a extradição. Uma das razões é o tratado, assinado por Brasil e Argentina, em 1961, que impede a transferência do acusado para o outro país se os crimes estiverem prescritos (mais de 20 anos).
Krischke os contesta:
- Em primeiro lugar, há tratado mais recente, do Mercosul, que privilegia os direitos humanos. Além disso, onde está Walsh? Seu corpo não apareceu. Ele é um desaparecido. Portanto, o caso dele é de um crime ainda em continuação. Não pode haver prescrição em casos como o seu. É um acinte tudo isso.
Acusado formalmente pela morte do jornalista e escritor Walsh, o ex-delegado nega o crime, mas lamenta, tranquilamente, não ter sido o autor dos tiros.
- Quando as forças armadas tomaram o controle operacional na Argentina contra o terrorismo, fui destacado para trabalhar como policial federal. Combatia terroristas que atentavam contra a pátria, que cometiam atentados. Matavam civis, políticos, militares, todos que opunham seu pensamento. Jurei defender minha bandeira. Cumpri meu dever como foi mandado. Não me sinto como um criminoso - disse ele em entrevista ao meu colega José Luís Costa. - Matei muita gente em enfrentamentos. Só em enfrentamentos.