Os porto-alegrenses ganharam um inesperado presente nesta Semana da Criança com a instalação daquele barquinho de papel no remodelado Largo dos Açorianos. A intervenção artística patrocinada pelo Dmae para assinalar a 9ª Semana Municipal da Água atracou no espelho d'água e também nas nossas mais doces lembranças da infância – com a simbologia adicional da viagem de navio feita pelos imigrantes açorianos que deram início à Capital dos gaúchos.
Quando menino, devo ter dado muitas voltas ao mundo nos barquinhos de papel que carregavam o tédio dos dias de chuva. Bastava uma poça de água, de preferência um daqueles córregos que se formam nas periferias da cidade depois do aguaceiro, para a gente soltar a imaginação no frágil navio de dobraduras, que invariavelmente naufragava no primeiro bueiro. Até afundar, porém, nos transformava em navegadores, capitães, marujos e piratas pelo oceano infinito da fantasia.
Aprendi cedo a construí-los, marcando figuras geométricas com os dedos. Retângulos, triângulos, trapézios... Dobra aqui, frisa ali... De repente, puxa-se uma ponta com delicadeza e a magia acontece: o projeto de Titanic está pronto para navegar por mares agitados, rios correntosos e lagos tranquilos. Um barco de papel nunca é apenas um barco de papel: é sempre um sonho de viagens, descobertas e conquistas.
Naquele barco de papel jornal representado pela bela escultura que emerge das águas do Largo dos Açorianos este menino disfarçado de cronista tem viajado pela vida.