Tenho um programa agendado para esta quinta-feira: vou dar um pulinho ali na Lua e já volto. Não perco, de jeito nenhum, a estreia do filme O Primeiro Homem, que conta a história do astronauta Neil Armstrong e os efeitos colaterais de sua extraordinária viagem. De certa forma, todos nós que já vivíamos em 1969 somos testemunhas oculares da maior aventura da humanidade, que foi a corrida espacial entre norte-americanos e soviéticos.
Pelo que já li a respeito do filme e pelo que pude ver no trailer, vamos pegar uma carona na Apollo 11 e sentir a mesma tremedeira claustrofóbica dos desbravadores do espaço, com a vida sempre por um parafuso. Aliás, li numa reportagem do El País que todos os pioneiros bem-sucedidos, 12 homens em menos de quatro anos, voltaram com os parafusos emocionais fora de lugar. Quatro ainda estão vivos.
Tudo é fantástico e beira o inacreditável numa proeza dessas, ainda que nada supere a realidade natural de planetas como o nosso flutuando no vazio em torno de uma estrela. Como analisa o autor da reportagem do jornal espanhol, é mesmo desconcertante para um ser humano ir mais longe do que todos os outros de sua espécie, ser reconhecido como herói pelo mundo inteiro e depois voltar para casa e sentar no sofá para assistir televisão.
Armstrong isolou-se, desfez um casamento de 38 anos e chegou mesmo a protagonizar uma rumorosa batalha judicial com o barbeiro que vendeu uma mecha de seu cabelo. Seu companheiro de missão, Buzz Aldrin, que ainda luta contra a depressão e o alcoolismo, nunca se conformou em ser apresentado como “segundo homem a pisar na Lua”. Outros três navegadores espaciais – James Irvin, Charles Luke e Eugene Cernan – tiveram revelações espirituais e um deles chegou a fundar uma igreja. Edgar Mitchell voltou crente na telepatia e na existência de ETs. Alan Bean virou pintor, repetindo exaustivamente o mesmo quadro: a superfície do satélite terrestre iluminada pelo Sol, sob um céu escuro – paisagem descrita e reconhecida por todos os que lá estiveram.
Lunáticos? Ora, a maioria de nós que não viajamos, e que jamais viajaremos para tão longe, também tem as suas excentricidades. Uma das minhas é apreciar filmes sobre explorações espaciais e comentá-los antes mesmo de tê-los visto. Na volta da Lua, conto mais.