Quando Renato Portaluppi escala insistentemente André entre os titulares e a resposta não vem, ele se obriga a mudar o time em meio ao jogo. Caso a troca de peça funcione, será elogiado por ter acertado na iniciativa, mas alguém haverá de lembrar que este acerto terá decorrido de um erro original. Cada um fará sua leitura e determinará qual é o valor maior, se o erro na escalação ou a correção bem-sucedida.
No Grêmio, o treinador parece ter chegado ao limite com o centroavante que não corresponde à quantidade enorme de chances que já teve. André não faz por mal, combinemos. Só não está conseguindo retribuir a confiança que lhe é depositada, seja lá a razão para que isso ocorra. Na outra ponta deste episódio, renasce Diego Tardelli, depois de quase sair do clube por ter se tornado caro demais para o pouco que entregava de volta. Isso até fazer o gol que abriu a vitória da quinta-feira (25) na Libertadores, contra o Libertad, na Arena. Logo depois, o atacante deu entrevista, falou sobre a tristeza que sentia e o quanto via injustiça nas críticas que recebia. Na verdade, era a versão do vitorioso naquela hora.
Todos os que o criticaram antes, desde que não tenham levado para o lado pessoal, tiveram suas razões para fazê-lo. Do torcedor, indignado pelo alto salário e baixo rendimento de Tardelli, ao presidente, que cobrou definição do jogador quanto a seu futuro. Passando pelo exagero de um dirigente que foi à rede social dizer que a porta da rua é a serventia da casa, e pela crítica dos comentaristas que não conseguiam ver equilíbrio no custo/benefício de Tardelli/Grêmio.
É passado. Diego Tardelli começa a responder em campo às críticas que sofria. De chuteiras, fazendo gol e levando o Grêmio adiante na Libertadores, o atacante estará de fato fazendo seu papel muito mais do que nas mensagens em redes sociais em que anunciou sua vontade de ficar no clube. O torcedor e a torcedora não se impressionam pelos belos olhos verdes que enfeitem o rosto de um eventual centroavante. O que os faz felizes é gol, vitória, título em escala ascendente.
Se Tardelli for regular daqui para frente na posição em que Renato o coloque a jogar – talvez como centroavante, quinta-feira próxima, no Paraguai –, a torcida o absolverá do que houve antes, e parecerá que sempre se amaram, gremistas e Diego Tardelli. Simples assim.
Um time, está no título, é uma obra em movimento. O da Copa do Brasil, em 2016, teve solução com Luan de jogador adiantado a revezar com o meia Douglas. O da Libertadores, em 2017, mudou de qualidade com o ingresso inusitado de Arthur na posição de segundo volante. Desta vez, havia um centroavante, Barrios. O time de 2019, já bicampeão gaúcho, ainda busca solução para o vácuo da saída de Ramiro e para a posição de centroavante.
O capitão Maicon e o presidente Romildo já falaram, com razão, que o Grêmio está encerrando um ciclo e abrindo outro em meio aos campeonatos que disputa. E sem trocar de treinador. Leva tempo e tem percalços, mas dá para fazer. Se der a lógica, o Grêmio dará mais um passo no processo já como um dos classificados às quartas de final da Libertadores.