A mobilização de agricultores que já ocorre em todas as regiões do Estado chegou com força a Brasília e colocou mais pressão no governo federal. No Ministério da Agricultura, parlamentares que foram recebidos pelo ministro Carlos Fávaro nesta terça-feira (13) viram disposição dele para medidas mais amplas aos atingidos pela enchente, mas também uma dificuldade de convencimento da área econômica. Um dos principais impasses é sobre o prazo para pagamento das dívidas.
Na audiência, técnicos da Fazenda disseram que a extensão das parcelas por 15 anos, como defendem os produtores, seria inviável por gerar um custo de aproximadamente R$ 40 bilhões em juros. Mas a atual proposta do governo, de prorrogar por quatro anos, é considerada insuficiente pela maioria dos agricultores.
A Medida Provisória (MP) sobre a prorrogação das dívidas é alvo de críticas generalizadas na bancada gaúcha. Dezenas de emendas foram apresentadas ao projeto e poderão ser apreciadas quando o texto for pautado em sessão do Congresso.
A negociação terá de considerar o prazo para solução dos problemas. Sem o mínimo de consenso, as soluções poderão demorar demais e comprometer a próxima safra.
— O agricultor precisa atuar no calendário agrícola para não perder a safra, tem que acessar o novo plano safra e, portanto, resolver a sua vida com mais prazo para pagamento das dívidas. Como o governo não fez a MP no tom necessário, a solução terá de passar pelo Congresso. Acredito que o prazo máximo para resolvermos isso é de 30 dias — disse o deputado Affonso Hamm (PP).
Além de ser indispensável para evitar uma quebradeira entre os produtores, os deputados alertam que o avanço das negociações é importante para acalmar os ânimos dos produtores, muitos deles já descrentes sobre uma solução.
Presidente da comissão externa criada pela Câmara para acompanhar a reconstrução do Rio Grande do Sul, o deputado Marcel Van Hattem promoveu uma audiência pública com produtores que vieram do Rio Grande do Sul. Os discursos foram unânimes sobre a urgência de medidas que possam socorrer o setor.
— Até agora, praticamente não temos nada. O que saiu de medidas não serve nem para a pequena propriedade. São recursos ínfimos. As pequenas propriedades do Rio Grande do Sul são muito produtivas e o capital que elas giram é muito grande – afirmou o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Na capital federal para outras agendas, o governador Eduardo Leite se reuniu com o grupo para uma manifestação de apoio. Ele ressaltou o impacto do setor para a economia gaúcha e reiterou que a ajuda federal está bem abaixo do necessário.
— Esta manifestação precisa ser ouvida não como um movimento de oposição, mas como a luta de um Estado que já contribuiu muito para o Brasil e agora precisa de ajuda — sustentou Leite.
Um acordo costurado com lideranças do Congresso deve viabilizar nesta quarta-feira (14) a votação de um projeto do governo que permite a contratação de novos empréstimos por produtores que estejam negativados. A medida, que também faz parte da lista de pleitos dos produtores, deve resolver parte dos problemas de acesso a crédito.