
O número de empregos formais ativos no setor privado no Rio Grande do Sul teve crescimento de 2,4% em 2024, o menor de todo o país. Segundo dados parciais da Rais 2024, do Ministério do Trabalho e Emprego (veja aqui), na média nacional, houve alta de 4%.
Todos os Estados tiveram mais vagas de emprego criadas do que fechadas no setor privado em 2024, movimento puxado sobretudo pelo crescimento da economia brasileira no ano, de 3,4%.
Especialistas afirmam que a enchente ajuda a explicar em parte a menor variação observada no Rio Grande do Sul, mas também há causas estruturais, como envelhecimento populacional, expansão menor da atividade econômica, endividamento do Estado e abalo da mudança climática no setor produtivo.
Conforme Kellen Fraga, professora da Escola de Negócios da PUCRS, há necessidade de relativizar o efeito da enchente. A cheia teve contribuição para setores crescerem menos em empregos formais, como indústria (0,5%) e agropecuária (0,8%). Por outro lado, em construção (6,5%) e serviços (3,6%), houve impacto positivo da reconstrução do Estado.
— A questão climática onera o agronegócio e atinge a economia gaúcha. Qualquer mudança climática terá impacto forte, e os reflexos podem aparecer no mercado de trabalho, dependendo do setor e da região do RS — diz Kellen.
Adelar Fochezatto, também professor da Escola de Negócios da PUCRS, acrescenta que a maior vulnerabilidade do Estado a eventos extremos tem efeito migratório:
— Lugares mais suscetíveis a choques climáticos, como enchentes e estiagens, sofrem tanto em termos econômicos quanto em termos demográficos, porque a população tende a sair. Além disso, tem o impacto do envelhecimento populacional. À medida que a população envelhece, diminui o empreendedorismo e muda o consumo.
É bom lembrar que, na versão final da Rais 2023, que inclui empregos formais no setor público, o Rio Grande do Sul também estava atrás da média nacional. Naquele ano, houve crescimento de 2,3% em empregos formais no Estado em relação a 2022, enquanto a média era de 3,6%.
Apesar da menor expansão, o Rio Grande do Sul ainda é dono de 6% do estoque de empregos formais no setor privado do país, quinto Estado com maior relevância, com cerca de 2,8 milhões de postos de trabalho.
Salário em alta
O lado bom é que o Rio Grande do Sul ainda é considerado um Estado desenvolvido e cresce acima da média nacional em salário real médio no setor privado.
Em 2024, houve aumento de 1,6%, pouco mais do que o dobro da variação média no período, de 0,7%. Fochezatto, no entanto, pondera que há formas contrárias de observar o efeito:
— É um movimento típico de economias mais sólidas. O primeiro emprego tem salário bem mais baixo, mas no RS, a idade média do trabalhador é um pouco superior a de outros Estados. Por outro lado, pode ser que o salário maior também seja um fator negativo em termos de atração de novas empresas, porque a empresa sabe que terá de pagar mais.
Crescimento do emprego formal por setor no Rio Grande do Sul
- Agropecuária | 0,8%
- Indústria | 0,5%
- Construção | 6,5%
- Comércio | 1,9%
- Serviços | 3,6%
Variação do emprego formal por Estado
- Amapá | 9,7%
- Amazonas | 8,1%
- Rio Grande do Norte | 7,3%
- Roraima | 6,7%
- Paraíba | 6,5%
- Santa Catarina | 4,9%
- Paraná | 4,5%
- Rio de Janeiro | 4,1%
- Média nacional | 4%
- São Paulo | 3,5%
- Minas Gerais | 3,4%
- Rio Grande do Sul | 2,4%
Variação da remuneração real média por Estado
- Santa Catarina | 2,5%
- Mato Grosso do Sul | 2,1%
- Espírito Santo | 1,9%
- Minas Gerais | 1,8%
- Maranhão | 1,7%
- Rio Grande do Sul | 1,6%
- Paraná | 1,3%
- Média nacional | 0,7%
- São Paulo | 0,6%
- Rio de Janeiro | -1,7%
*Colaborou João Pedro Cecchini