
Um dos focos do South Summit Brazil 2025 é o empreendedorismo das mulheres. Uma das participantes dos painéis é Jaana Goeggel, fundadora da Sororitê Angel Network, rede de mulheres investidoras no Brasil em sociedade com Erica Fridman. Na conversa com a coluna, a suíça Jaana, que está há 17 anos no Brasil, disse que está aberta a receber projetos de gaúchas e de todas as mulheres que enfrentam obstáculos para fazer seus projetos decolarem. A empresa lançou neste ano um fundo de investimento para financiar startups e pode ser acessada aqui.
Qual foi sua trajetória no Brasil e qual trabalho você desenvolve?
Estou há 17 anos no Brasil. Minha carreira é de executiva, trabalhei em multinacionais. Sou formada em engenharia. No Brasil, passei por American Express e Expedia Group, grandes empresas americanas, sempre em posições de diretora de inovação, novos negócios, estratégia e produto. Saí da Expedia em 2020, na época da pandemia. Saí do mundo corporativo porque não era possível viajar e estava cansada de tentar incentizar a inovação em empresas grandes. Era frustrante estar no Brasil, vendo as oportunidades do mercado local, e ter de convencer a matriz, nos Estados Unidos, que não entendia a necessidade de prioridade da América Latina, que sempre ficava no final da fila. Demorei três anos para conseguir implementar o parcelamento para comprar viagens no site da Expedia, que é o básico do básico para o consumidor brasileiro e latino-americano. Decidi fazer um período sabático para esperar a pandemia passar e depois dar o meu próximo passo como executiva. Só que a vida me levou para outros caminhos.
O que ocorreu?
Quis usar o tempo para conhecer o ecossistema das startups. Comecei a fazer investimento anjo (aporte de recursos de pessoa física) em um grupo em São Paulo dos graduados da Columbia University. Foi ótimo, porque havia muitos colegas do mercado financeiro, que trabalham em fundos, bancos de investimento. Mas eu era a única mulher, a única investidora, também não havia mulheres no nosso dealflow (fluxo de oportunidades de negócio). Isso reflete o mercado, mas me incomodava. Quando um amigo me conectou com a Erica, minha sócia, e ela me falou em criar um grupo só de mulheres investidoras, investindo em startups de mulheres, achei o máximo. Topei na hora, e começamos um grupo de menos de 10 mulheres amigas no WhatsApp. Era 2021, não havia grandes ambições grandes, mas fomos crescendo. O boca a boca trazia mais mulheres. Muitas vezes, mulheres buscam essa alternativa porque não querem mais ser a única. Nosso foco sempre foi ser um grupo acolhedor para mulheres, para transformar mais mulheres em investidoras, porque entendemos que precisamos mudar o topo do funil. Decisões ainda estão muito concentradas em homens brancos de meia-idade. Principalmente quando falamos sobre investimento em startups early stage (estágio inicial), em que não há dados, para tomar uma decisão é preciso ter ter empatia com o problema. Precisa entender que é uma dor grande e tem um mercado grande e tem de confiar no time de fundadoras. Existem estudos de diferentes áreas demonstrando como mulheres são avaliadas de forma diferente do que homens, seja como executiva ou como fundadora de startup. Não surpreende que só 2% do capital investido em startups vai para fundadoras mulheres. Nosso trabalho é trazer mais mulheres a ser donas do próprio capital para investir em outras mulheres, que vão construir empresas, para depois crescer e trazer prosperidade.
Temos grande variedade, como a Herself, uma empresa de calcinhas menstruais aqui do Sul. Imagina a fundadora fazendo pitch (apresentação) para uma mesa de investidores homens.
Está crescendo?
Sim, mas hoje ainda são poucas as mulheres, de 15% a 20% no Brasil, que são investidoras anjo. Estamos trabalhando para aumentar. Aqui realmente uma oportunidade de negócio. Nosso grupo de investidores também reunia muitas mulheres que não têm tempo, executivas que, mesmo querendo investir, não conseguem analisar startups e gerenciar o portfólio. Com o fundo, toma uma decisão, vira cotista de um FIP (Fundo de Investimento em Participações). Fazemos todo esse trabalho de atrair as melhores fundadoras, selecionar as melhores oportunidades, gerenciar o portfólio e ajudar a florescer e crescer para depois fazer o exit (venda com distribuição de lucro para investidoras e fundadoras). Lançamos em julho do ano passado um fundo de venture capital tradicional, então agora também podemos atrair investidores tradicionais, porque o Angel Network é só focado em mulheres. Já temos um multifamily office e um family office investindo no nosso fundo, então temos agora mais capacidade de atrair capital e investir nessa tese.
Com quantas empresas de mulheres vocês estão trabalhando?
Temos uma base de dados de centenas de mulheres, que está crescendo. Toda semana recebemos novas inscrições. Quem fala que não tem mulheres para investir está mentindo. Fizemos dois investimentos no fundo até agora e temos um portfólio de 18 startups que foram investidas pelo grupo de anjos. Temos grande variedade, como a Herself, uma empresa de calcinhas menstruais aqui do Sul. Imagina a fundadora fazendo pitch (apresentação) para uma mesa de investidores homens. Teria constrangimento ou falta de empatia para o problema. Também temos a hiSofi, uma plataforma de cobrança digital supertecnológica, um tema bem delicado.