
O jornalista Mathias Boni colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O elevado IPCA de fevereiro, divulgado nesta quarta-feira (12) pelo IBGE, reforça ainda mais o alerta em relação à inflação no Brasil. O crescimento de 1,31% foi o maior do indicador para este mês em 22 anos, além de representar também o maior crescimento mensal desde março de 2022.
O viés de alta do IPCA em fevereiro já era esperado pelo mercado, pelo ritmo anterior de crescimento do índice, que já vinha pressionando principalmente o preço dos alimentos, e também por alguns fatores sazonais. A maior variação do mês, por exemplo, foi registrada pela educação, pois nesse período ocorrem reajustes das mensalidades escolares.
De todo o modo, todos os nove grupos pesquisados tiveram aumento nos preços em fevereiro. Além disso, o acumulado dos últimos 12 meses, de 5,06%, ultrapassou o patamar de 5% pela primeira vez desde setembro de 2023 — se afastando ainda mais da meta anual de até 4,5%.
Alerta para o próximo dia 19
Na tentativa de combater a alta da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) continuará aumentando a taxa Selic nos próximos meses. Na última reunião do grupo, em janeiro, foi anunciado o aumento de um ponto percentual, chegando a 13,25%. Novo aumento de um ponto percentual também foi sinalizado para a próxima divulgação, que ocorrerá em 19 deste mês. Mesmo com essas projeções, a alta da inflação pode fazer com que o comitê acelere o aumento já previsto de juro para os próximos meses.
— Essa alta gera muita atenção, e as autoridades monetárias vão ter de tomar medidas mais drásticas para tentar controlar esse índice, principalmente com o aumento da taxa de juro. A inflação deve continuar forte ao longo de todo o ano, e o Copom pode ter de acelerar, ou aumentar a elevação de juro que já estava prevista para justamente tentar arrefecer a pressão inflacionária — destaca Giácomo Balbinotto, economista e professor da UFRGS.
O relatório Focus da última segunda-feira (10) trouxe a projeção do mercado de que o acumulado de 12 meses do IPCA encerre 2025 por volta de 5,68%. O boletim produzido pelo Banco Central (BC) também previa que a Selic terminaria o ano chegando a 15%.
— Outra grande dúvida é por quanto tempo esse juro vai permanecer nesse patamar, e eu creio que seja por um tempo bastante longo. Não vejo muito espaço para redução de juro em 2025, dada toda essa pressão inflacionária, que se mostra forte, resistente e disseminada — projeta o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank.
De forma geral, a taxa básica de juro é o principal instrumento do Banco Central para tentar regular a economia. Quando a inflação está em alta, uma solução é aumentar a taxa Selic para desincentivar o crédito e o consumo.
— Quando reduz a demanda, desacelera a atividade econômica e alivia a pressão dos preços que é causada pela inflação. Mas esse efeito normalmente só é sentido depois de alguns meses do aumento de juro — explica o professor Balbinotto.
IPCA em Porto Alegre
A inflação de fevereiro em Porto Alegre teve crescimento de 1,29%, um pouco abaixo da média nacional para o mês. Entre as 16 capitais pesquisadas, a gaúcha teve o quinto menor aumento, sendo superada somente por Fortaleza (1,03%), Rio Branco (1,06%), Goiânia (1,16%) e São Paulo (1,18%).
No acumulado de 2025, o crescimento da inflação na Capital chega a 1,26%, também abaixo da média nacional, de 1,47%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, o índice de Porto Alegre chega a 4,20%, o menor entre todas as capitais que constam no levantamento.
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