
O sábado (8) que marca o Dia Internacional da Mulher é convite à reflexão, o que fez a coluna ir atrás de informações sobre inclusão no mercado de trabalho, tema que perde força nos Estados Unidos, com rendição de empresas à política de Donald Trump.
O desafio, no entanto, está mais perto do que se imagina. Relatório do Ministério do Trabalho e Emprego do segundo semestre de 2024 (veja aqui) aponta que só 27,3% das 3.076 empresas gaúchas com mais de cem funcionários têm políticas de incentivo à contratação de mulheres. É o quarto pior percentual no país, abaixo da média nacional (35,3%).
Conforme a coordenadora do curso de Administração da Escola de Negócios da PUCRS, Judith Ferran, a cultura organizacional gaúcha ajuda a explicar a posição do Rio Grande do Sul na lista:
— O Estado possui setores econômicos tradicionais, como indústria e agronegócio, que podem apresentar estruturas mais conservadoras e resistentes a mudanças de políticas de diversidade e inclusão.
Ainda há efeito de ao menos outros três pontos: o baixo nível de fiscalização, a falta de conscientização de funcionários e a disparidade de gênero em cargos de liderança.
— As mulheres têm culturalmente o estigma de estarem voltadas ao cuidado, à abstração, à empatia, o que faz com que se preocupem mais com equilíbrio, pessoas e resultados. Pode afetar alguma tomada de decisão e a chegada a cargos de liderança — acrescenta Judith.
Por que inclusão importa
Para a Gabriela Agustini, codiretora da Olabi, empresa especializada em políticas de diversidade, equidade e inclusão, ambientes corporativos homogêneos tendem a dificultar a ascensão profissional de outros grupos sociais e restringir os níveis de compreensão das demandas dos ambientes externo e interno.
— Existe uma diversidade muito grande na população que não necessariamente está representada na mesma proporção dentro das organizações, das instâncias de decisão. Gera desconexão com o mercado — afirma Gabriela.
Ainda conforme a especialista, o país passa por um "momento-chave dentro da agenda de diversidade e inclusão", sobretudo após o desmonte nos Estados Unidos.
— Quem questiona está olhando para o curto prazo. E obviamente estamos falando de um campo que os benefícios se mostram no longo prazo — completa Gabriela.
A Olabi tem uma plataforma chamada Jornada DEI (de diversidade, equidade e inclusão) que estimula o debate no ambiente de trabalho por meio do micro-hábito — ou seja, conteúdos diários de até 15 minutos que provoquem reflexão. Para Judith, a solução também passa pela educação, mas a anterior à chegada ao mercado.
— Precisamos ter o discurso muito presente nas famílias, porque ainda vemos comentários machistas, de desvalia das mulheres, associando a outras competências que não aquelas que vão favorecer a ascensão profissional e a igualdade.
A especialista ainda lembra que dois "fantasmas" rondam a contratação de mulheres: a possibilidade de licença-maternidade e o retorno crescente ao modelo de trabalho presencial. Maior flexibilidade de horários facilita a inclusão feminina, uma vez que ajuda mulheres a lidarem com o acúmulo de tarefas de casa e o cuidado com filhos, explica Judith.
*Colaborou João Pedro Cecchini