
A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) que encerrou a aplicação do choque de juro anunciado em dezembro e levou a Selic a 14,25% avisando que haverá nova alta na reunião de 7 de maio dá poucas pistas óbvias sobre de quanto pode ser esse aumento. No entanto, aponta as duas variáveis que vai observar para a tomada da próxima decisão.
Há muito tempo e por definição, as decisões do Copom são condicionadas pela inflação. Se sobe muito, o juro acompanha, se desce em proporção relevante, a taxa vai junto. Desta vez, além do vaivém dos preços, o BC vai observar com atenção outra variável: a esperada desaceleração da economia. Está lá no item 12 da ata:
"Prospectivamente, o Comitê acompanhará o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; o repasse do câmbio para a inflação, após um processo de maior volatilidade da taxa de câmbio; e as expectativas de inflação, que apresentaram desancoragem adicional e são determinantes para o comportamento da inflação futura."
É por isso que o melhor cenário, a essa altura, é que a taxa estratosférica de 14,25% anuais faça o efeito desejado e desacelere a economia. Caso contrário, não só o Brasil estará elevando sua dívida inutilmente como... haverá novas altas da taxa básica.
O detalhamento da decisão de indicar uma nova alta para a próxima reunião, surpreendendo boa parte do mercado, que esperava uma comunicação mais aberta, sem determinação até do sentido do próximo movimento, foi assim:
"O Comitê, em sua comunicação, optou por conjugar três sinalizações sobre a condução de política monetária, caso se confirme o cenário esperado. Primeiramente, julgou que, em função do cenário adverso para a dinâmica da inflação, era apropriado indicar que o ciclo não está encerrado. Em segundo lugar, em função das defasagens inerentes ao ciclo monetário em curso, o Comitê também julgou apropriado comunicar que o próximo movimento seria de menor magnitude. Além disso, diante da elevada incerteza, optou-se por indicar apenas a direção (sem quantificar) do próximo movimento."
Nem só inflação e atividade econômica estarão no radar do Copom. Os efeitos da errática política comercial e de inserção global do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terão papel fundamental.
O problema é que, embora a situação da economia americana tenha sido a primeira menção do Copom, tanto no comunicado quanto na ata, a perspectiva que embasa os cálculos do BC ainda é relativamente benigna:
"O cenário-base do Comitê segue sendo de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana".
Depois de um início de semana marcado por novas idas e vindas na tática de Trump, não há segurança de que haverá calma e ordem na desaceleração. Por isso, o Copom já se vacina:
"(...) além das incertezas inerentes à conjuntura econômica, há dúvidas sobre a condução da política econômica em diversas dimensões, tais como possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, abrangência e intensidade da elevação das tarifas à importação e alterações importantes em preços relativos decorrentes de reorientações da matriz energética, o que pode impactar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para economias emergentes".
Esse último trecho que a coluna destaca pode ser resumido assim: há risco de alta do dólar. Como se sabe, caso isso ocorra, haverá maior pressão sobre a inflação. Isso significa que o juro será definido com um olho na inflação, outro na atividade e um a mais, em Trump.