Caso cumpra a ameaça feita na véspera, a caminho do Super Bolw, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve anunciar nesta segunda-feira (10) tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio. Isso significa que, para entrar nos Estados Unidos, esses produtos serão acrescidos de 25% de seu preço.
Ou seja, mesmo sem justificativa ou "justificativa", o Brasil será afetado por ser o segundo maior exportador de aço para os EUA. No ano passado, o valor das vendas desse produto para empresas americanas somou US$ 6,1 bilhões (ao redor de R$ 35 bilhões). Isso que já havia caído em relação ao recorde alcançado em 2022, de R$ 7,45 bilhões. É o risco Trump concretizado, como ocorreu no primeiro mandato.
Também em 2024, quase metade das exportações brasileiras de aço (48%) tiveram os EUA como destino. No caso do alumínio, tanto o valor (US$ 270 milhões) quanto o percentual (16%) são muito menores. Mas somados, totalizam US$ 6,37 bilhões em ingressos de divisas no Brasil que passam a ficar sob risco.
Como se trata de Trump, é bom lembrar que, até agora, é apenas uma ameaça. Mas, como se trata de Trump, é melhor se preparar para o impacto. A redução no ingresso de dólares resultante da efetiva aplicação da medida – que ainda não está documentada, a coluna insiste –significaria menos entrada de dólares no Brasil, com possível desvalorização do real frente ao dólar.
Mais diretamente afetados seriam as empresas que exportam aço e alumínio para os EUA, que teriam receita reduzida e, especialmente nesse momento de sobe e desce do câmbio, e perderiam ao menos parte de seu hedge natural – exportadores têm "garantia" contra a variação do dólar com vendas na moeda americana.
E o impacto no setor siderúrgico pode ser ainda maior, porque o Brasil já enfrenta forte entrada de aço chinês. Mesmo com a adoção de medidas de salvaguarda pelo governo federal, os relatos das empresas são de que a iniciativa ainda não teria sido suficiente.
Esse é o temor da Gerdau, maior produtora brasileira de aço, que também tem fábricas nos EUA. Ao comentar o potencial de problemas no dia em que foi confirmada a vitória de Trump, em novembro passado, o CEO da siderúrgica, Gustavo Werneck, afirmou:
— Se fecha mais nos EUA, é muito provável que mais aço venha ao Brasil. É fundamental que o governo federal seja célere agora, porque o mecanismo de defesa comercial mista, por meio de cotas, não tem trazido os resultados esperados e precisa ser reformado.
Essa, no entanto, não é a única ameaça ao Brasil. Na sexta-feira (7), Trump já havia mencionado a possível adoção de "tarifas de reciprocidade", com potencial de atingir o Brasil. Isso significa que os EUA adotariam o mesmo tratamento dado em cada país às alíquotas do imposto de importação aplicado a produtos americanos. Essa possibilidade, além da declaração – depois negada – sobre um possível reajuste da Bolsa Família, havia feito o dólar subir. Nesta segunda, como se esperava, o câmbio abriu com alta moderada, chegou a passar do patamar de R$ 5,80, mas virou para baixa, conforme analistas por alívio com a negativa do governo sobre aumento de gasto com o Bolsa Família.