É possível que a volta do dólar para o patamar inferior a R$ 5,80 dure só 24 horas. Depois de fechar em R$ 5,771 na terça-feira (4), com a menor cotação desde 19 de novembro e a maior sequência de quedas (12) da história do real, a moeda americana voltou a subir nesta quarta-feira (5). Caso feche nesse patamar, interromperá .
No final da manhã, a cotação sobe 0,7%, para R$ 5,81. Não há um motivo óbvio para a alta, o que pode indicar nova acomodação, agora para moderar o ajuste do exagero do ano passado. Analistas observam que gestores estão reduzindo o prêmio de risco sobre o real, mas é bom lembrar o que a coluna havia observado: a maioria dos economistas vê espaço para redução, pero no mucho.
Em entrevistas concedidas nesta manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ter compromisso com a redução da inflação, mas deu uma escorregada ao dizer que "está razoavelmente controlada". Na véspera, o Banco Central (BC) havia admitido que a meta pode estourar em junho – o que não é exatamente um "controle".
O que ajudou a aliviar o câmbio foi a não aplicação drástica de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O que ocorreu de fato foi a imposição de imposto de importação de 10% para produtos chineses, com represálias moderadas da China. É muito, mas nada perto do que o discurso de Trump sugeria.
Mas é preciso observar, ainda, que o dólar sobe apesar de um sinal que vem sendo lido como sintoma da desaceleração prevista – e desejada pelo BC, que sobe o juro com essa intenção – da economia brasileira. A produção industrial teve novo recuo de 0,3% em dezembro, depois de uma queda de 0,7% em novembro. Esse dado foi citado no comunicado que acompanhou o anúncio da alta do juro e não foi bem percebido pelo mercado.
— É efeito da elevação da Selic, desejado na medida em que se consolidou a perspectiva que o Brasil está acima do PIB potencial, logo apenas uma desaceleração econômica poderia atenuar a inflação — observa o economista André Perfeito.