O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem usado o que ele mesmo chamou de "o porrete das tarifas" para assuntos não diretamente ligados ao comércio internacional. As regras internacionais da área só preveem aumento do imposto de importação em casos extremos, como quando há invasão de produtos estrangeiros em determinado país – no Brasil, um caso recente foi o do aço vindo da China.
A "justificativa" relacionada ao comércio internacional – entra aspas porque não é, pelas regras – que Trump costuma citar para ameaçar parceiros é o forte déficit dos EUA na relação com esses países. Isso significa que os americanos compram mais do que vendem para esses países.
Mas no caso do Brasil, a série histórica que há década ocorre o contrário: quem tem déficit com os EUA somos nós. Nunca foi muito alto – o maior foi em 2022, de US$ 13,9 bilhões (veja gráfico acima), mas se repete sem falha nos últimos 10 anos. Por isso, Trump não teria nem uma justificativa entre aspas para aplicar tarifas contra o Brasil.
No entanto, lógica e racionalidade não necessariamente guiam as decisões de Trump. No caso de Canadá e México, os principais parceiros comerciais dos EUA, ele usou as seguintes alegações, que incluem "tudo o mais":
— O motivo número 1 são as pessoas que entraram em nosso país de forma tão horrível e tão grande. Número 2, as drogas, o fentanil e tudo o mais. Número três, os enormes subsídios que estamos dando ao Canadá e ao México na forma de déficits.
É preciso observar não são governos que definem o que os países compram e vendem. Claro, existem instrumentos para incentivar ou desincentivar, mas quem decide o que comprar no Exterior ou dentro do país são as empresas, diretamente, e os consumidores indiretamente.
O comércio entre os dois países é muito mais importante para o Brasil: os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em importações (15% do total) quanto em exportações (12% do total), mas produtos nacionais estão em 18º lugar entre os comprados por americanos enquanto os americanos aparecem aqui em nono lugar entre os importados.
E as trocas entre os dois países ainda contêm uma certa ironia: o principal item de exportação do Brasil aos Estados Unidos é petróleo bruto (14% do total. Só que os EUA são os maiores produtores de óleo e gás do planeta. E se há um preço com o qual Trump não quer mexer é o da energia.