Boa parte da pressão que leva à constante alta do dólar está ligada à preocupação do mercado financeiro sobre o aumento da dívida pública brasileira. Com todos os indicadores de curto prazo apontando piora – inclusive alguns com perspectiva mais longa, como a dos juros futuros – há outro impacto.
Nos últimos 30 dias, aumentou em 27,8% o risco Brasil medido pela variação dos Credits Default Swaps (CDS, um derivativo que precifica o risco de calote de títulos, inclusive os que representam a dívida de países, chamada de "soberana").
Em 20 de dezembro, passou dos 200 pontos pela primeira vez desde 5 de junho de 2023, antes da definição do arcabouço fiscal no Brasil, e ficou em 218,14. Depois, acabou recuando para o patamar abaixo, mas sem descolar muito da fronteira. Nesta quinta-feira (27) estão em 198,35, conforme o site World Government Bonds.
Apesar da alta, a chamada "probabilidade de default implícita", ou seja, o risco de calote projetado pelo atual nível dos CDS com prazo de cinco anos, é de apenas 3,31%. Nos últimos cinco anos – prazo de negociação desses derivativos –, o maior nível de inquietação ocorreu em 19 de março de 2020, em 374,9 pontos, durante a pandemia de covid-19.
É bom comparar com a Argentina, um país em situação mais delicada nessa área nos últimos vários governos. Os CDS da dívida do país vizinho estão em 1.030 pontos, isso que baixaram nada menos de 87% nos últimos 30 dias. E ainda projetam probabilidade de calote do país vizinho em 17,18%, quase seis vezes superior à do Brasil.
O que fez o dólar subir
Neste final de ano, ao menos cinco fatores se combinaram na pressão cambial. Um decorre das próprias pausas nos negócios determinadas pelos feriados, que sempre deixam o mercado mais cauteloso. Outro veio do aumento na projeção de juro e inflação do Relatório Focus. Mais um veio de estimativas de desidratação do pacote fiscal do governo no Congresso, no Brasil, com o reforço do temor de e, finalmente, a informação de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) deve espaçar a redução de juro no país.
Como o BC vem intervindo
Iniciada em 12 de dezembro, a oferta de dólares pelo BC já passa de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 16,76 bilhões em leilões à vista, ou seja, com recursos das reservas internacionais.
A saída de dólares
Dados do Broadcast, serviço especializado no mercado financeiro do jornal O Estado de S.Paulo, apontam saída de dólares de US$ 14,7 bilhões entre os dias 2 e 19 de dezembro. Foi a maior para o período na série histórica do BC iniciada em 2008. Antes, a saída mais volumosa nos primeiros 19 dias do mês havia sido registrada em dezembro de 2019, de US$ 12,7 bilhões.