Até a manhã desta segunda-feira (17), ainda havia expectativa de ao menos um mínimo corte no juro básico até o final do ano. Não há mais: o Relatório Focus publicado há pouco pelo Banco Central (BC) fechou a porta para redução da taxa Selic, ainda que discreta.
A coleta de projeções com cerca de uma centena de economistas de instituições financeiras e consultorias econômicas mostrou que a maioria não conta com qualquer ajuste no juro porque a estimativa mais frequente (mediana) prevê taxa de 10,5% em dezembro, como está desde 8 de maio, quando foi feito corte de 0,25 ponto percentual. Era o mais recente, agora pode ter sido mesmo o último do ano.
A mudança ocorre depois de uma das semanas mais turbulentas do atual mandato no mercado financeiro, que levou o dólar para acima dos R$ 5,40 e a bolsa abaixo do patamar de 120 mil pontos e incluiu até dúvida sobre a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Embora a maioria dos analistas já esperasse uma parada técnica na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de terça e quarta-feiras (18 e 19), ainda existia uma vaga esperança de um pequeno corte até o final do ano, ainda que depois de uma "parada técnica".
O principal motivo para essa expectativa é o elevado juro real (taxa nominal, descontada a inflação), por volta de 7% - quase o dobro da inflação acumulada em 12 meses, de 3,93%. Isso significa que o Brasil remunera muito bem estrangeiros que investem - ou especulam - aqui.
Mesmo assim, predominou nesse universo a aversão ao risco: em maio, houve expressiva saída da chamada "conta financeira", que registra movimentação de dólares para aplicação no mercado financeiro. O saldo foi negativo em US$ 11,434 bilhões, recorde para o mês desde 1982. Na quarta-feira passada (12), auge da tensão, os juros futuros chegaram a projetar até elevação da taxa Selic. Depois, desinflaram.
Nesta segunda-feira (17), dólar já abriu em alta de 0,5%, enquanto a bolsa opera em baixa equivalente. Um dos motivos, já indicam analistas, são declarações de Lula de que não aceitará revisão nas despesas com saúde e educação - a revisão que mais poderia ter efeito, do ponto de vista das contas públicas.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção.
Eleições na Europa: embora fosse esperado o crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a expressiva votação da extrema direita na França fez o presidente Emmanuel Macron convocar eleições em seu país, o que eleva a incerteza na economia.