Veio abaixo das expectativas o resultado do IPCA-15 de janeiro - aquele indicador que é igualzinho ao oficial, só muda o período de coleta. A variação mensal de 0,31% foi menor do que a do mesmo período imediatamente anterior (0,4%) e bem inferior à média das projeções, que estava em 0,47%.
Até aí, tudo bem docinho, considerando que é o indicador divulgado mais perto da próxima reunião do Copom, que deve cortar mais 0,5 ponto percentual do juro básico na próxima quarta-feira (31). Mas assim como houve casos em que o índice cheio não era tão bom, mas o recheio era saboroso, agora ocorreu o contrário: o miolo teve gosto amargo.
Apesar da surpresa positiva no índice "cheio", economistas focados em inflação alertaram para uma leitura pouco favorável "do ponto de vista qualitativo". Conforme o economista André Perfeito, apesar da "surpresa benigna", o conjunto inspira "certo cuidado".
A boa perspectiva abre a possibilidade até de reduzir as projeções para o fechamento do ano. A ruim é que o recheio amargo é exatamente o que o Comitê de Política Monetária (Copom) examina com lupa nas suas decisões.
As duas camadas de recheio mais "provadas" são a dispersão dos preços (que mede quantos produtos pesquisados aumentaram, portanto mostra o quanto a inflação está espalhada). E a medição dos serviços subjacentes (que exclui preços que variam mais, como hotéis, passagens aéreas e tarifas de internet) chegou a 0,68%, acima das expectativas (média de 0,5%).
Curiosidade: economistas e jornalistas foram surpreendidos nesta sexta-feira (26), porque o resultado do IPCA-15 já estava disponível no site do IBGE às 8h, quando o horário de praxe é 9h. Alguns chegaram a comentar o "IPCA-15 antecipado". O IBGE esclareceu que houve "um problema técnico computacional de horários em seus equipamentos servidores", automático, que "acabou sendo adiantado em uma hora".
O que é déficit zero e por que é importante
A meta de déficit zero adotada pelo Brasil é um compromisso relacionado ao chamado "resultado primário", Isso quer dizer que o governo não vai gastar mais do que arrecada, sem considerar as despesas com a dívida pública. Significa que, ao não comprometer recursos que não tem (o que significa, na prática, gastar mais do que arrecada), não vai aumentar a dívida do Brasil. Ter déficit zero representa disposição de não elevar o já pesado endividamento público. Quanto maior a dívida, maior seu custo, o que dificulta a redução do juro.