Ao contrário da reunião anterior do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), quando houve suspense até o segundo anterior à publicação do comunicado com o corte de 0,5 ponto percentual, desta vez não há dúvida sobre a poda da quarta-feira (20).
A tensão, desta vez, está nas letras, não nos números: a preocupação é sobre o recado que o BC vai dar no comunicado que levará o juro básico a 12,75% ao ano a partir de 21 de setembro.
Como a coluna já destacou, se a decisão de fazer o primeiro corte de 0,5 p.p em agosto não foi unânime, todos convergiram na antecipação do ritmo dos cortes futuros, como relatou a ata do Copom: "os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".
Mesmo um desenho de trajetória tão explícito não impediu que o mercado oscilasse entre projeções de cortes mais ousados e até mais parcimoniosos ao longo das seis semanas que separam as duas reuniões. O mais recente indicador a provocar especulações foi o crescimento de 0,5% no setor de serviços, divulgado na última sexta-feira (15). Como veio acima do previsto, suscitou observações sobre a "resiliência" da atividade econômica e seus supostos efeitos sobre a maior resistência também da inflação.
O boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (18) ajudou a aplacar esses temores. Além de convergir para a projeção de crescimento perto de 3% no ano - 2,89% -, trouxe ligeira redução na estimativa de inflação no ano - de 4,93% na semana passada para 4,86% nesta - e leve queda na expectativa para a cotação do dólar - que também ajuda a segurar os preços - no final do ano, de R$ 5 para R$ 4,95. E confirmou que se espera Selic em 11,75% em dezembro - que resultaria de três cortes de 0,5 p.p.
Apesar desse cenário benigno, às vésperas da reunião do Copom a cotação do petróleo segue em alta. Nesta segunda-feira (18), ameaça encostar em US$ 95. Acumula alta de 12,5% desde o início de agosto, quando o BC fez o primeiro corte no juro. E especulações sobre novo aumento iminente nos combustíveis pipocam no mercado, com reflexos sobre a inflação. Nesse caso, a esperança é de que a queda nos preços de alimentos ajude a compensar eventuais novos reajustes de gasolina e diesel.
A tensão do mercado, então, está depositada sobre a descrição que o Copom fará sobre o seu famoso "balanço de riscos" - o que pesa a favor da manutenção da trajetória e se há algo no horizonte que pode alterá-la.