Desde janeiro, a gaúcha Alyssa Bruscato, que era a segunda maior acionista da Saraiva, estava envolvida em uma disputa judicial com os acionistas majoritários da rede de livrarias, que entrou em recuperação judicial em 2018.
Na semana passada, decidiu vender quase toda a sua fatia, que chegou a 15,3%, para ficar com apenas 0,15%. Nesta segunda-feira, duas pessoas que atuam na gestão da Saraiva indicados por ela, Francine Nunes e Aaron Rabeno, apresentaram suas renúncias, respectivamente, aos conselhos fiscal e de administração, elevando a disputa em mais um degrau.
Francine, que também é mãe de Alyssa, afirma que a gota d'água foi a aprovação das contas da empresa por uma das sócias, o que segundo ela contraria a legislação específica das companhias que negociam ações em bolsa. A expectativa da jovem gaúcha era de que as contas fossem rejeitadas, o que abriria a possibilidade de os credores assumirem a gestão do que resta da empresa. Conforme o site da Saraiva, a empresa teve prejuízo de R$ 17 milhões no segundo trimestre.
— Não estava conseguindo exercer minha função de conselheira fiscal. Apontava irregularidades, sempre baseada em documentos, não de forma leviana. E estava sendo ignorada. Já havia pedido, por exemplo, para que registrassem que eu era contra o pagamento da KR Capital (que assumiu a gestão da empresa), mas fui ignorada. Como eu era a única mulher nessa celeuma, queriam sempre me desqualificar. Mas como sempre fui muito incisiva e criteriosa, não conseguiam me enrolar. Agora, ignoraram a proibição de que o controladora aprove suas próprias contas, então foi o ápice — relatou à coluna.
Segundo Francine, apesar de Alyssa já ter reduzido sua participação, ela e Aaron ainda teriam um ano de mandato nos conselhos, mas decidiram sair para se preservar de desdobramentos que, avaliam, podem ser ainda mais negativos. Também confirma que a família pretende judicializar a relação com a Saraiva, tanto por má conduta na gestão quanto pelas perdas que Alyssa sofreu por ter comprado as ações por um preço e vendido a valor muito mais baixo.
— É preciso saber perder no mercado de capitais, mas uma coisa é perder para o mercado, outra, por irregularidades. Agora ela vai correr atrás do dinheiro dela.
Quando reduziu sua participação, Alyssa emitiu um comunicado fazendo críticas à administração da Saraiva:
"No passado eu acreditei na empresa, me tornando a segunda maior acionista da Saraiva por anos e por acreditar no que o plano de recuperação judicial divulgou aos seus acionistas (muito diferente do que a Administração desta empresa fez), e na sua capacidade de se reerguer por aquilo que foi explícito, porém, diante de fatos tão graves é inviável manter qualquer posição acionária relevante nesta Companhia. Por fim, informo que adotarei as medidas legais cabíveis contra aqueles que me causaram danos".