O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
A notícia de que a Eletrobras pretende vender a Usina Candiota gerou um misto de preocupação e alívio imediato, tendo em vista que o encerramento das atividades estava no centro das especulações no município gaúcho da Região da Campanha. O ativo é um dos motores da cadeia de energia que responde por 40% do orçamento municipal e garante boa parte dos empregos na cidade de 10,7 mil habitantes .
A medida dá sobrevida à usina, mas conforme o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan, não resolve a descontinuidade dos contratos até 2024 o que ensejaria debate sobre alcançar a descarbonização até 2050, meta assumida pelo país para a neutralidade em emissões de carbono.
– É preciso de uma operação mínima para manter a CRM (fornecedora de carvão), operando. Caso contrário, inviabiliza, pois tem que ter o combustível e a usina contratada.
Movida a carvão mineral, explorado a céu aberto e com emissões de materiais particulados (poeira e fumaça) e dióxido de enxofre acima dos limites estabelecidos pela legislação ambiental, a Usina de Candiota foi um dos motivos de celebração no mercado, ontem. Marcella Ungaretti, Head de Research ESG e Luiza Aguiar, Analista de Research ESG, da XP investimentos, consideraram que o primeiro Investor Day, após a privatização da Petrobras fixou quatro razões “pelas quais a empresa nos mostrou que está mudando para melhor”.
Entre os motivos, os destaques são a alocação de capital para energia renovável e a maior competitividade para fornecedor de energia para a produção de hidrogênio verde.
Veja o que diz o texto:
- Alocação crescente de capital para renováveis
A Eletrobras possui atualmente 44,4 GW de capacidade instalada de energia (23% da capacidade total do Brasil), dos quais 97% são provenientes de energia limpa¹, o que garante a empresa uma das menores intensidades de emissão em relação à média do setor (52tCO2/MWh). Não obstante, os líderes da Eletrobras reforçaram o compromisso de continuar direcionando a alocação de capital para renováveis, inclusive por meio de fusões e aquisições (M&As) estratégicas e crescimento orgânico, sem aumentar as emissões de gases de efeito estufa – à título de referência, desde o 2S22, a Eletrobras adicionou ~10% de capacidade instalada frente à 6 M&As, garantindo uma redução de aproximadamente 40% nas emissões. Por fim, vale destacar que a empresa está desinvestindo em termelétricas, avançando no caminho rumo à descarbonização e em linha com a meta de atingir emissões líquidas zero até 2030. - Preparando-se para se tornar um competitivo fornecedor de energia para a produção de hidrogênio verde
O hidrogênio verde, ao ser produzido por eletrólise (método amplamente dependente de energia renovável), possui sua escalabilidade relacionado ao fornecimento de energia a preços competitivos (~US$ 35/MW), o que, segundo o CEO, a Eletrobras pode oferecer. Conforme mencionado durante o evento de hoje, olhando para frente, o hidrogênio verde é uma esperança (e não um exagero), com uma demanda crescente e investimentos globais que provavelmente impulsionarão a expansão da capacidade instalada localmente. - Novas estratégias de gestão da força de trabalho, com políticas para otimização da estrutura
Para atender às novas demandas após a privatização, incluindo políticas de atração, retenção e desenvolvimento de talentos, a Eletrobras criou um departamento de Gestão da Transformação (TMO, na sigla em inglês), com o objetivo de formar equipes mais ágeis e implementar políticas robustas de gestão de mão de obra. Em relação aos Planos de Desligamento Voluntário (PDVs) da Eletrobras, a empresa destacou que já registrou uma redução de 30% em sua força de trabalho total desde o 1T22 (de 12,1 mil para 8,5 mil), enquanto esperávamos ver uma maior divulgação sobre os detalhes do programa. - Implementando mudanças na estrutura organizacional e societária para impulsionar a governança
Wilson Ferreira Junior elogiou a composição de alta qualidade do Conselho de Administração, composto por 9 membros, que juntos somam mais de 250 anos de experiência, e destacou a abordagem “prática” que tem sido adotada pela empresa, evidenciada pelas aproximadamente 40 reuniões realizadas nos últimos 11 meses. Além disso, vale destaque para algumas conquistas que seguiram a privatização: (i) ter se tornado uma “Corporation”², com estrutura de governança simplificada e votos limitados a 10% para os acionistas; (ii) a eleição de novos executivos altamente experiente nas subsidiárias da Eletrobras, agregando eficiência; e (iii) o fortalecimento da estrutura da holding para centralizar os processos decisórios.