
No final de um dia histórico para o Brasil, com o primeiro aumento da nota de crédito da dívida pública do país de BB- para BB desde 2015, o Palácio do Planalto anunciou o novo presidente do IBGE: será o gaúcho Marcio Pochmann.
Nascido em Venâncio Aires, foi presidente da Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020 e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2007 e 2012. E foi nessa última atuação que Pochmann colheu rejeição entre economistas - a coluna detalha a seguir.
E se muitos economistas torceram o nariz pelo nome, os políticos fizeram o mesmo pela forma da indicação. O IBGE é um órgão de pesquisa vinculado do Ministério do Planejamento. E a titular da pasta, Simone Tebet, não só não foi consultada, mas sequer informada antes da indicação - mesmo tendo aceito o cargo com a promessa de autonomia na formação da equipe. Para um governo que se vende como "frente democrática", não foi nem uma coisa - faltou interlocução - nem outra - faltou ao menos uma consulta formal.
Mas, afinal, porque economistas criticam Pochmann? O motivo objetivo decorre de sua passagem pelo Ipea. Nos cinco anos em que esteve à frente do órgão, afastou colegas que não se alinhavam às teses e faziam críticas ao governo no órgão público. Ou seja, em vez de manter uma política de Estado - o debate econômico plural - praticou política de governo. O Ipea, como diz o nome, também é um órgão de pesquisa. Não de estatística, como o IBGE, mas de estudos aprofundados em economia e sua relação com a vida real - daí o "aplicada".
Esses são os dois pontos factuais e objetivos da reação negativa à indicação de Pochmann. Para além, há os subjetivos: o gaúcho é considerado "desenvolvimentista", ou seja, defensor de mais gastos públicos e com pouco foco no ajuste fiscal. Nesse momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter conseguido vencer temores e preconceitos do mercado e de economistas ortodoxos, é uma inflexão.
E os críticos mais ácidos apontam risco de credibilidade nos levantamentos do IBGE - alguns cruciais para os rumos econômicos do país, como o IPCA, o índice oficial de inflação. Mesmo Tebet, preterida na indicação, considera essa especulação "aviltante". Tem dito a interlocutores que a solidez técnica do IBGE e a informatização das consultas protegem o órgão de qualquer tentativa de manipulação. O órgão tem mecanismos de fiscalização e supervisão e um conselho curador composto por representantes dos ministérios.