Mesmo sob novas cobranças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, protestos na frente da sede e quase todo o mercado já desenhando a curva do ciclo de baixa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) não abriu a porta para um corte do juro básico no futuro imediato.
Houve um sinal, mas se parece mais com uma frestinha: foi retirada a frase que "ameaçava" retomar a elevação da taxa Selic caso a inflação não caísse, como se esperava. E segue lá a observação de que considera adequada a "estratégia de manutenção de juros por período prolongado".
Desta vez, o BC contrariou não só as expectativas de governo e dos empresários, interessados diretamente na queda do juro, como até boa parte das de economistas de mercado. Ficaram no texto não só "paciência e serenidade" como surgiram dois novos freios em forma de palavras:
"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação desancoradas, segue demandando cautela e parcimônia."
Mesmo sem porta aberta, vai se intensificar a temporada de apostas – que já começou, a despeito da "retórica altista", como qualificou André Perfeito, economista com anos de experiência no mercado. Na sua avaliação, o BC "está prisioneiro da sua retórica e arma para si uma situação difícil de desatar".
No mais recente boletim Focus, do Banco Central, que coleta projeções de uma centena de instituição financeiras e consultorias econômicas, a mais frequente é de que a Selic termine o ano em 12,25%, ou seja, há perspectiva de um corte de 1,5 ponto percentual até dezembro, em quatro reuniões: 1º e 2 de agosto, 19 e 20 de setembro, 31 de outubro e 1º de novembro, 12 e 13 de dezembro.
Circulam no mercado todas as combinações possíveis, tanto as que começam com uma poda quase simbólica de 0,25 ponto percentual até as que já partem de corte mais visível, de 0,5 ponto percentual, em formato decrescente. E também existe expectativa de terminar o ano com uma taxa abaixo de 12,25%. No mercado de juros futuros, já existem indicativos de Selic abaixo de dois dígitos no final de 2024, de 9,35% (essa seria a taxa efetiva, não a meta definida pelo BC).
Mas mesmo alguns dos economistas mais otimistas - por projetar o juro básico em 11,75% -consideram remota a possibilidade de juro em um dígito só. É o caso de Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine, que mesmo assim mantém projeção de dois dígitos quase simbólica, de 10,5% no final do próximo ano. Na sua avaliação, o risco de políticas expansionistas (de gastos) extrafiscais, ou seja, fora do orçamento, limita o alcance do ciclo de baixa.