Com as expectativas do mercado "coordenadas" - ou seja, sem tantas incertezas - e positivas - com dólar na mínima de 13 meses e bolsa perto da máxima de 2022 -, já não se pergunta "se" o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai abrir a porta para o corte de juro no comunicado de quarta-feira (21). Sim, porque seria uma grande surpresa se houvesse redução já nesta reunião.
O que está em discussão agora são os termos em que fará o "anúncio" da poda para agosto - e se será um desbaste simbólico, de 0,25 ponto percentual - ou se pode ser mais acentuado, de 0,5 pp. E mais ainda, a decisão deve marcar o início de um ciclo de baixa do juro básico.
As apostas vão de pequenas alterações do texto do comunicado, que apenas "abram a porta" para uma poda, sem garantir que ocorrerá, a formulações mais explícitas. Afinal, os juros futuros já caíram, em grandes números, do patamar de 14% - acima da taxa básica de 13,75% - para o nível de 10%, deixando o BC até "atrasado" na redução.
Uma das possibilidades, conforme Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, seria apenas a retirada da frase "o Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado". Ou seja, antes de avisar que vem o corte, retirar a expectativa de alta. Outra hipótese seria afirmar que "os fatores de risco agora tendem para a direção de menos inflação" - o que abriria a porta. Leal espera um corte de 0,5 pp em agosto, seguido de três de 0,25 pp até o final do ano.
No "Esquenta do Copom" (sim, tem isso) da XP Investimentos, assinado por Caio Megale, que foi secretário do Tesouro na gestão Paulo Guedes, há previsão de que a comunicação seja "ajustada para incorporar a melhoria recente nas perspectivas de inflação", mas como as projeções seguem acima da meta, o comitê deve evitar se comprometer com a próxima decisão". Mesmo assim, a perspectiva da equipe é até mais otimista: corte de 0,25 pp em agosto, seguido de cortes de 0,50pp até a Selic chegar a 11% no primeiro trimestre de 2024.
Para o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, reforça que "se abriu uma janela de oportunidade" que começaria por amenizar o tom duro do comunicado. Desde a reunião anterior do Copom, pondera, "a inflação continuou dando sinais de arrefecimento e, diante da redução do risco fiscal, a taxa de câmbio passou a ser negociada abaixo dos R$ 5, as expectativas melhoraram e as taxas das longas da curva de juro futura começaram a cair" - todos fatores positivos para o ciclo de baixa. Sua expectativa é de poda de 0,25 pp em agosto, mais duas de mesmo tamanho e, só na última reunião do ano, em dezembro, um corte de 0,5 pp, levando a Selic a 12,5% em dezembro.