O sonho do dólar abaixo de R$ 5 vai durar uma semana de outono? Depois de ensaiar na véspera, com alta discreta, a moeda americana já se instalou acima dessa barreira psicológica na abertura dos negócios desta quarta-feira (19), com alta de 1,4%, para R$ 5,046.
A bolsa também tem baixa considerável, de 1,5%, mas nada "dispara" ou "despenca" (veja observação no final desse texto).
No mercado, a justificativa para a reação tem influência do exterior - maus resultados de grandes companhias globais, do tradicional Morgan Stanley à big tech Netflix - mas também foco nas contas sobre o tamanho da arrecadação extra necessária para garantir a eficiência do novo marco fiscal, cujo texto foi apresentado na véspera.
Embora conceitualmente o mercado tenha considerado positiva a proposta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, economistas fazem cálculos e projeções para verificar se as metas que constam no projeto são factíveis. Ao entregar o texto ao Congresso, Haddad afirmou que a renúncia fiscal no Brasil já soma R$ 600 bilhões ao ano e disse que quer retirar ao menos 25% desse total.
A ambição, portanto, seria reonerar R$ 150 bilhões. Economistas agora se dedicam a avaliar se essa projeção é suficiente - se com essa arrecadação extra, é mesmo possível garantir déficit zero no próximo ano. E também avaliam se é factível, já considerando o revés com a primeira dessas iniciativas, o fim da brecha tributária que permite alto volume de compras no Exterior sem pagamento de imposto.
Uma das inquietações, a longa lista de exceções ao limite de gastos, foi alvo de um esclarecimento do secretário do Tesouro, Rogério Ceron - um dos integrantes da equipe econômica que melhor dialoga com o mercado financeiro. Ceron assegurou que as despesas excluídas agora já não estavam sujeitas ao teto de gastos. Mesmo o pagamento do piso da enfermagem - uma novidade - já ficaria fora da regra atual por ser obrigação constitucional.
Esclarecimento: a coluna tem escala para usar os verbos "dispara" ou "despenca". É subjetivo, mas baseado em fatos & dados: oscilações diárias de até 3% ocorrem com certa frequência na bolsa brasileira. Acima, são raras. Por isso, os verbos mais "dramáticos", digamos, são reservados a variações acima de 3%.