Na virada de 2019 para 2020, foi criada a TecnoMIM, no Distrito Industrial de Cachoeirinha. A proposta era inovadora: usar aço em pó para, em vez de fazer pequenas peças pelo processo convencional, chamado usinagem, permitir a produção a partir de um processo usado para produtos plásticos, chamado injeção.
Depois de investimento de R$ 8 milhões na implantação, agora a indústria prepara a segunda linha de produção, com mais cerca de R$ 6 milhões, que deve duplicar a capacidade a partir de março de 2023. Uma das principais aplicações são peças de instrumentação cirúrgica, para ortodontia, caixas eletrônicos e até tampas de bico injetor em motores.
— Quase metade desse valor é de equipamento, que vem da Alemanha, assim como a matéria-prima — detalha Wagner Caramez, sócio-diretor da TecnoMIM.
O final do nome é em letras maiúsculas porque é a sigla do nome do processo em inglês: metal injection moulding (ou moldagem por injeção metálica). O processo de manufatura inclui a mistura de 90% de aço em pó com 10% de resina plástica, que permite a injeção.
Depois, o material passa por um processo que, aquecido a até 1.300ºC e submetido a alta pressão, retira a parte plástica, restando apenas o aço. O objetivo é substituir a usinagem, que provoca grandes perdas de material. É indicado para pequenas peças de formato complexo e alto volume de produção.
— Existem cálculos no setor que, entre a tonelada de aço que sai da usina e o produto final, 50% do material se perde na cadeia, que inclui a corta da barra, o recorte e a usinagem. São várias etapas de remoção de material. A injeção permite maiores produtividade e sustentabilidade, por isso tem crescido muito na Europa e nos Estados Unidos, onde é considerado um processo ecofriendly (amigável ao ambiente) — afirma Caramez.
O engenheiro mecânico trabalhou com esse processo na antiga empresa e decidiu empreender nesse segmento inovador, que é considerado "manufatura aditiva", em vez de extrativa.
— Queria oferecer uma solução tecnológica mais sustentável. A injeção metálica permite extrema precisão, usando aços de baixa liga de carbono e inoxidáveis. É um processo mais competitivo para peças abaixo de 100 gramas, e mais ainda a partir de 50 gramas. O projeto teve apoio do Badesul porque entrou em linha de inovação.
Em toda a América Latina, detalha, há apenas outras três ou quatro operações do tipo. A inovação é tanta, diz Caramez, que precisa explicar detalhadamente o processo para convencer engenheiros de que a peça final é mesmo de aço.
— Em testes de micrografia sobre propriedades mecânicas, não dá para diferenciar uma peça usinada e outra injetada. Tem as mesmas características, só uma maior porosidade, que não afeta a resistência. Por isso, tem ampla aplicação em vários ramos da metalmecânica — diz o diretor.
Até agora, a TecnoMIM vende 60% da produção dentro do Estado e 40% fora. Mas já começa a fazer estudos para exportação para Argentina e EUA, além de prospecções no Chile. Caramez faz questão de mencionar, ainda, que a fábrica nasceu no Estado com ajuda da Furg, de Rio Grande, que até hoje segue dando suporte técnico na área de metalurgia.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo