Um projeto de inclusão e diversidade que tem como principal objetivo aumentar a participação de pessoas negras nos grandes escritórios de advocacia do país, chegou ao Rio Grande do Sul. Idealizada pelo Centro de Estudos das Sociedades de Advogados (Cesa), a iniciativa tem no Estado a parceria da UFRGS e o apoio de escritórios de Direito.
O Projeto Incluir Direito oferece capacitação profissional e pessoal, por meio de mentorias gratuitas, para que universitários negros e negras participem, em condições de igualdade, de processos seletivos para ingressar no mercado de trabalho. O projeto também gera mudanças na estrutura e na cultura organizacional dos escritórios, ao contribuir para a composição de equipes de trabalho mais diversas.
— Infelizmente, a sociedade brasileira ainda é muito racista, e isso acaba por se refletir nos escritórios, que precisam identificar eventuais barreiras internas em suas estruturas e reorganizá-las. É um projeto transformador não só para os jovens participantes, mas para a vida de cada um de nós — afirma o advogado Carlos José Santos da Silva, o Cajé, idealizador do projeto e presidente do Conselho do Cesa.
O professor Lúcio Almeida, coordenador-adjunto do projeto na Faculdade de Direito da UFRGS, explica que o Incluir Direito terá início com um projeto-piloto, com turma inicial de 10 estudantes da própria universidade, escolhidos por meio de concorrência. As aulas serão no prédio da faculdade localizado no campus do centro de Porto Alegre.
Os participantes terão aulas aos sábados, durante um semestre, com carga total aproximada de 90 horas, além de encontros com mentores. Os universitários receberão treinamento de especialistas em diversos temas, como elaboração de currículos, dinâmica do processo seletivo em escritórios, português jurídico, oratória, exposição em redes sociais e inglês.
— Percebemos, na academia, que a passagem do estudante para a condição de profissional muitas vezes não se dá de forma adequada devido a barreiras impostas por raça e cor. Por isso, decidimos participar desse projeto — reforça o professor.
Atualmente, o Incluir Direito tem o apoio de 50 sociedades de advogados, e está consolidado em cinco universidades: USP, Mackenzie (SP), PUC-RJ, UFRJ e UFMG. Foi vencedor da categoria advocacia da 18ª edição do Prêmio Innovare (2021), do Prêmio de Iniciativa para a Diversidade da Latin Lawyer (2018), do Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade da Prefeitura de São Paulo (2021-2022); e do X Prêmio Dr. Benedicto Galvão da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP (2021).
— A promoção da diversidade étnico-racial exige atitudes práticas das empresas na busca de um ambiente de trabalho mais democrático, diversificado e amigável. A adesão de escritórios de advocacia ao projeto é mais uma prova de que, apesar do grande caminho que temos pela frente, já demos os primeiros passos no combate ao racismo estrutural — destaca Leonardo Braga Moura, sócio do escritório Silveiro Advogados e um dos mentores de alunos do projeto.
Um dos participantes da ação é o estagiário jurídico Luiz Roberto Santiago, que cursa Direito na UFRJ. Morador da favela Senador Camará, no Rio de Janeiro, Santiago sempre estudou em escola pública e, ao entrar na universidade por meio de vestibular social, deparou-se com uma realidade difícil.
— Percebi que, diferentemente de outros colegas, eu não tinha todas as ferramentas possíveis para estudar. Isso me deixou muito angustiado. O estudante negro e pobre não tem a experiência inicial exigida pelos escritórios de advocacia para estágios, e essa é a primeira forma de segregação. O Projeto Incluir Direito me ajudou, e tem ajudado outros estudantes na mesma situação, a ocupar os lugares que os negros e negras merecem, mas que não são nossos atualmente — diz Santiago.
Escritórios de advocacia e outros players do mundo jurídico interessados em participar do projeto no Rio Grande do Sul, ou em qualquer outro lugar do país, podem entrar em contato com a secretaria do Cesa pelo telefone (11) 3104-8402.
* Colaborou Mathias Boni