
A Amaro, rede de varejo de moda que combina os universos físico e digital, anunciou que, desde janeiro, está compensando a emissão de gás carbônico que ainda não consegue evitar. Com isso, apresenta-se como "primeira empresa 100% carbono negativo" do Brasil.
Até o final do ano, a empresa vai ter "compensado", com a compra de créditos de carbono, 30 mil toneladas do poluente. Segundo cálculos da marca, a iniciativa equivale a preservar uma área florestal equivalente a 18 Maracanãs.
A coluna já observou que o relatório do painel da ONU sobre a irreversibilidade das mudanças climáticas que já ocorreram elevaria a pressão por descarbonização, mas a Amaro começou antes: o projeto começou ainda em 2019, quando a empresa criou um comitê para estudar práticas sustentáveis. Um ano antes, a Amaro já havia iniciado a criação de uma linha de produtos com menor impacto ambiental.
— Quando começamos a debater o assunto, não imaginávamos que o debate ia ser tão complexo, tão técnico e com tantas detalhes — disse à coluna o suíço Dominique Oliver, CEO da marca.
Além de se tornar "carbono negativo", a empresa adotou processos que economizam, por ano, cerca de de 100 mil litros de água, principalmente na produção do jeans. Todas as iniciativas são baseadas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
As medidas foram compiladas no primeiro relatório de sustentabilidade elaborado pela empresa. Divulgado na segunda-feira (9), 0 documento de 70 páginas reúne, entre outras coisas, os dados coletados, a metodologia utilizada nos estudos e os resultados.
— Primeiro, não é chato de ler (risos), cita as pessoas que estão por trás do comitê. É muito transparente, está tudo ali — pontua Oliver.
No e-commerce da empresa, também são vendidas peças de outras marcas. Por isso, o relatório menciona quais adotam práticas sustentáveis. O documento também sugere práticas que podem ser adotadas por outras empresas do ecossistema. Segundo Oliver, a marca busca inspirar outras companhias.
— No Brasil, o assunto ainda está começando no ecossistema (da moda). Então, não é uma atmosfera de julgamento, e sim de apoio. As empresas não devem ter medo de se expor. Na Amaro não é tudo perfeito, longe disso — admite.
Oliver considera necessário ser transparente com clientes até sobre os pontos em que a empresa ainda precisa melhorar. Reconhece que ainda tem "muito trabalho pela frente" e compartilha essa constatação com os seus clientes. Para 2022, a empresa busca reduzir em 10% a emissão de gás carbônico. No ano seguinte, planeja eliminar o plástico virgem (não reciclado) de suas embalagens. Em cinco anos, o objetivo é ter 50% das coleções feitas com matérias-primas sustentáveis.
Como funciona a compensação adotada pela empresa
A Amaro projeta que, até o final deste ano, emitir 15 mil toneladas de gás carbônico. O cálculo inclui matéria-prima, manufatura, armazenamento, transporte e entrega, além de viagens e lojas físicas. Com base nesse volume, a empresa comprou o dobro em créditos de carbono certificados (30 mil toneladas). Ou seja, além de reduzir a emissão, busca "deixar saldo positivo para o planeta."
Os créditos são certificados digitais que representam determinado volume de gás carbônico que deixou de ser emitido ou foi "sequestrado" por projetos ambientais de reflorestamento. Lembra das aulas de biologia da escola, quando se aprende que árvores absorvem gás carbônico para fazer a fotossíntese? Então, ampliando florestas, é possível obter créditos de carbono.
A compensação foi feita por meio de duas empresas especializadas na negociação desse ativo para conservação de florestas e iniciativas socioambientais, a Moss e a Biofílica. Com o negócio, a Amaro vai apoiar duas iniciativas, uma focada na coleta de biogás em aterros sanitários e a Fazenda Fortaleza Ituxi, do Amazonas.
* Colaborou Camila Silva