A possibilidade de preservar a equipe que atualmente cria circuitos integrados na Ceitec, mesmo que a estatal venha a ser "liquidada" – como anunciou o secretário especial de Desestatização, Salim Mattar –, não é considerada uma compensação suficiente para o fim do sonho da "fábrica de chips", mas foi bem recebida na área de pesquisa.
A empresa nascida como associação sem fins lucrativos e federalizada em 2009 teve sua extinção aprovada na semana passada pelo Programa de Parceria em Investimentos (PPI). O presidente do conselho de administração da Ceitec, Ronald Krummenauer, acenou com a possibilidade de criação de uma organização social (OS) para projetar circuitos integrados.
– Teria sido melhor se tivesse sido uma organização social desde o princípio. Uma OS é mais fácil de gerir e de operar – avalia Ricardo Reis, professor titular na área de microeletrônica da UFRGS.
Manter a equipe reconhecidamente qualificada permitiria ao Rio Grande do Sul perder menos com a eventual extinção da Ceitec, pondera:
– Ao menos, o Estado continuaria fazendo projetos e preservaria uma equipe de excelência.
Reis afirma que não se trata de manter empregos, porque os profissionais da estatal são disputados no mundo todo, mas de preservar uma rede formada por várias universidades e até empresas locais. Mesmo a dificuldade de reter os talentos na Ceitec não é de todo negativa, de seu ponto de vista, porque permite criar relações em todo o mundo:
– No Exterior, a valorização dos profissionais que formamos é maior do que aqui. Um ex-aluno que saiu da Ceitec foi para a Qualcomm, na Irlanda, depois de receber 23 propostas em uma semana. Essa qualificação tornou o Rio Grande do Sul uma referência internacional em microeletrônica. Temos uma rede formada por várias universidades gaúchas, como a de Pelotas e a de Santa Maria, que tem uma design house (faz o projeto para que cada circuito se adapte às necessidades dos clientes, semelhante ao que restaria da Ceitec).
Reis lembra que a Ceitec não ficou em Porto Alegre por acaso. Segundo ele, os pesquisadores de universidades gaúchas, especialmente da UFRGS, são responsáveis por mais de 90% das publicações de brasileiros em publicações especializadas e em conferências internacionais:
– Até hoje o Rio Grande do Sul é referência em microeletrônica no Brasil. Mas não deveriam fechar a fábrica. Se não investir em tecnologia de ponta, o Brasil nunca vai ser protagonista na economia global. Significa abrir mão de um investimento que, embora não tenha sido suficiente, mas foi importante. Seria um retrocesso.
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