Em nota distribuída nesta segunda-feira (15,) a Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro) afirma que a liquidação da Ceitec será um "retrocesso irreversível". A decisão de extinguir a estatal que funciona em Porto Alegre foi tomada na semana passada pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
Na avaliação da entidade, ainda haveria possibilidade de privatização parcial ou total, para que não se perca o investimento feito com recursos públicos nem o conhecimento acumulado pela empresa que projeta e produz circuitos eletrônicos (chips).
A SBMicro não menciona a possibilidade de manter apenas a área de criação de chips, cogitada pelo atual presidente do conselho da estatal, Ronald Krummenauer. A entidade apela que o Ministério da Economia reavalie a decisão de "liquidar" a Ceitec, conforme anunciou o secretário especial de desestatização, Salim Mattar. A sugestão é buscar parcerias com empresas privadas e institutos de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Leia a íntegra da nota
A Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMICRO) recebeu com extrema preocupação a notícia de que, na reunião de 10 de junho do Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), foi tomada a decisão pela liquidação da empresa Ceitec pelo governo federal.
A sociedade reafirma que a liquidação da Ceitec seria contrária ao interesse nacional de deter know how próprio em microeletrônica. Essa medida não estabelece parcerias de fato, e irreversivelmente desperdiça a propriedade intelectual, ativos e investimentos já realizados na única fábrica de difusão de circuitos integrados (wafers) no Brasil e no centro de projetos da estatal. No atual cenário em que potências mundiais, como os EUA e China, estão buscando se (re)equipar com fábricas e profissionais na área de circuitos integrados, a liquidação da Ceitec não só aumentará o fosso tecnológico do Brasil em relação às nações mais desenvolvidas, como diminuirá imensamente a capacidade brasileira para competir e inovar no mercado cada vez mais estratégico das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação). Esse mercado inclui inúmeras ramificações importantes, em muitas das quais a empresa Ceitec detém know how técnico e comercial. Citamos os produtos em Internet das Coisas (IoT); segurança digital; e soluções de chips que encontram severas restrições de acesso para o Brasil, pois são desenvolvidas no Exterior e consideradas tecnologias sensíveis devido ao seu potencial uso dual (civil e militar).
A SBMicro defende outras alternativas para melhorar a operação da Ceitec. As quais, a par de privatização parcial ou total, em articulação estratégica com empresas do setor e institutos de P&D, preservem o know how e o investimento no Brasil. Portanto, com veemente preocupação, apelamos para que o Ministério da Economia reavalie sua decisão anterior, articule ações com o MCTIC e promova uma consulta formal ou oferta de venda da empresa ou parte dos seus ativos. Para tal, somente um edital detalhado e com condicionantes poderá trazer sucesso ao governo e à nação.
Há alternativas e urge buscá-las em efetivas parcerias. A liquidação será retrocesso irreversível. A SBMicro coloca-se à disposição para prestar esclarecimentos técnicos, comerciais e estratégicos para as autoridades preocupadas em preservar o empreendimento estratégico que é a Ceitec."
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