A história se repete, uma marcada pelo fogo, outra manchada a partir do mar. Dois desastres ambientais que abalaram o Brasil em pouco mais de três meses provocaram perdas econômicas e marcam o estilo do governo Bolsonaro de lidar com o problema: desarticulação e busca de culpados antes de entregar soluções. Há quase dois meses, os efeitos do derramamento de petróleo começaram a ser vistos no litoral do Nordeste.
A primeira reação do presidente foi apontar o "culpado": o óleo tinha origem da Venezuela.
Também foi ao buscar responsáveis pelas queimadas na Amazônia, apontando organizações não-governamentais (ONGs) que atuam na região, que o presidente Bolsonaro desatou uma crise internacional em relação à imagem do Brasil. O país que não cresce e tem uma reviravolta de regras por dia passou a ser visto ainda como negligente quanto à maior floresta tropical do planeta. De quebra, comprou briga com países que contribuem com recursos para a preservação do bioma.
Agora, no vazamento de petróleo que se espalha por 200 praias em nove Estados, com mais de 1 mil toneladas de resíduo recolhidas pela Marinha – ainda não se sabe a totalidade do estrago –, o roteiro se repete. A primeira providência do governo foi apontar o dedo: o óleo seria da Venezuela. Não satisfeito em fazer declarações, como no caso das ONGs, tomou providências burocráticas para tentar responsabilizar o "país inimigo": na noite de quarta-feira (23), acionou a Organização dos Estados Americanos (OEA) para cobrar um pedido de explicações da Venezuela.
Embora haja pouco a dizer em defesa da Venezuela, não será com um pedido de explicações que os danos serão controlados. Em desastres de qualquer natureza, ambiental ou não, a primeira providência é interromper o estrago e resgatar sobreviventes. A busca de culpados vem depois. Houve claro erro de avaliação sobre o tamanho do problema que se arrasta há
50 dias ainda subdimensionado. O Ministério Público Federal (MPF) o considera o maior em extensão na história do país.
Manchas de petróleo sobre a areia em destinos turísticos como o Farol da Barra, em Salvador, ou Morro de São Paulo, também na Bahia, causam óbvias perdas para o turismo.
Também há forte impacto sobre a atividade pesqueira, uma das principais atividades das faixas de menor renda da região. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta, disse que será preciso monitorar as pessoas que tiveram contato com óleo – em sua grande maioria, voluntários que tentaram limpar as manchas sem equipamentos de proteção – por "10 a 20 anos". Haverá necessidade de monitoramento ambiental por anos a fio, o que também vai pressionar as despesas públicas. Só na última segunda-feira (21), veio a decisão, do presidente interino, Hamilton Mourão, de reforçar com 5 mil homens do Exército, a limpeza e o encaminhamento de soluções. Não é só articulação política que faz falta ao governo Bolsonaro.