Embora ainda dependa de confirmação oficial, falta um pouco de charme na lista das 17 estatais que circula no mercado financeiro (veja lista abaixo), com as quais o governo Bolsonaro pretende estrear seu programa de desestatização. Os grandes nomes – Correios e Eletrobras – enfrentam problemas distintos. Os Correios são um negócio desafiado pela tecnologia, a Eletrobras tem de resolver problemas financeiros para garantir um bom resultado na venda. Havia fartos sinais da inclusão das duas estatais federais no Rio Grande do Sul confirmadas para este primeiro movimento, Trensurb e Ceitec.
Mas como em toda a estreia, será mais importante, no anúncio oficial, que o governo indique como vai montar seu processo de privatização. Erros do passado ajudaram a construir a resistência de boa parte dos brasileiros com a venda de estatais. Termos como "conluio, negociata e privataria" não surgiram por acaso. Esta nova fase desestatização, é bom lembrar, vai ocorrer depois da Operação Lava-Jato, que atualizou os códigos de ética nos negócios e ajudou a eleger o governo Bolsonaro, que buscou se identificar com o combate à corrupção.
Caso se confirme o número de 17, serão 12,6% do total das 134 estatais listadas pela Secretaria Nacional de Desestatização, comandada pelo empresário Salim Mattar, que construiu o bem-sucedido caso da Localiza. No foco inicial de Mattar, estavam 18 empresas públicas que ele considera "dependentes", isto é, que dão prejuízo em vez de lucro e, nas contas do secretário, geram perdas anuais de R$ 15 bilhões. Algumas das incluídas nesse grupo parecem ter escapado. No Estado, estavam na mira duas estatais essenciais: Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o Grupo Hospitalar Conceição.
No momento em que a imagem do Brasil no Exterior combina avaliações de grandes oportunidades e muitos riscos, é ainda mais crucial apresentar um modelo de privatização blindado a acusações de "conluio, negociata e privataria". A grande maioria dos potenciais investidores é estrangeira, e vai querer se assegurar de que sua reputação estará preservada ao fazer negócios com o Brasil. É desse interesse, inclusive, que depende a concretização de um dos escassos potenciais de retomada da economia brasileira, que tem dificuldades para engrenar. Então, um processo transparente não se impõe apenas por princípios e respeito aos contribuintes que sustentaram muitas dessas estatais ao longo das últimas décadas. É uma questão de pragmatismo. Quanto mais claro for, mais investidores vai atrair.
A lista das estatais privatizadas que circula no mercado
Emgea (Empresa Gestora de Ativos)
ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias)
Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados)
Dataprev (Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social)
Casa da Moeda
Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo)
Ceasaminas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais)
CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos)
Trensurb (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S/A)
Codesa (Companhia Docas do Espírito Santo)
EBC (Empresa Brasil de Comunicação)
Ceitec (Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada)
Telebras
Correios
Eletrobras
Lotex (Loteria Instantânea Exclusiva)
Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo)