
Porto Alegre precisa perseguir o futuro em vez de lamentar o passado. O governador Eduardo Leite já havia dado sinal de que poderia romper o convênio com o atual concessionário do Cais Mauá, no centro de Porto Alegre, quando fez um balanço de seus primeiros cem dias de governo. No dia 10 de abril, afirmara:
– Estamos revisando as condições atuais para cumprir o contrato. talvez nas condições atuais não seja possível.
Além da Vonpar, que relatou sua experiência negativa em reportagem dos colegas José Luis Costa e Marcelo Gonzatto publicada no dia 27 de abril, empresários interessados no reencontro de Porto Alegre com seu antigo cais tentaram ajudar, participando. Recuaram ao perceber o tamanho da encrenca. Não quiseram expor a crise em público, mas manifestaram reservadamente a interlocutores sua preocupação com o futuro do projeto.
Não se tratava de "caranguejos", palavra que caracteriza quem critica projetos de desenvolvimento local. Nem todo crítico é caranguejo, no sentido de andar – e puxar –
para trás. Além de a concepção do projeto ter ficado antiga, o Cais Mauá encalhou sob o peso de transações mal explicadas e sucessivas gestões problemáticas. Há quase três anos, já se sabia, nos meios empresariais, que a concessão havia se tornado inviável financeiramente. Insistir na manutenção do atual modelo seria apostar no passado.
O futuro de Porto Alegre não é só digital. Uma solução para o cais que relativize a sustentabilidade – no conceito amplo, econômico, ambiental e social – também amarrará
a cidade ao passado. Menos concreto, mais áreas naturais e mais acesso público têm de estar na resposta. Nesse sentido, trocar a concessão por venda de espaço, como sinaliza o governador, pode não ser a melhor resposta. Há risco de descaracterizar a área. Mas é possível fazer. Desde que se olhe para a frente.